28.4.10

AZUL DE VIDA
















São três da manhã na borda de um veleiro em alto mar. Há um horizonte azul escuro, baço, mas sem nevoeiro. Tudo parece adormecido. Há uma eternidade de tempo que parece não querer passar.  As ondas reviram-se até ao mastro, violentas, nocturnas, imensas. Viro-me e canto "Who wants to live forever" na eloquência dos Queen. Volto à borda do barco. São três da manhã em alto mar. Olho para trás. Desfaleço.

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Retomo o dia. E com ele a luz. O jardim canta a terra e os seus bolbos. As folhas espreguiçam-se para o verão que se avizinha e uma mangueira de alma aplaca os excessos de sol e de calor. Rega com fertilidade. Convoca a aurora e inspira.

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A homenagem continua. O pulsar é vibrante e prometedor. A semente que deitada à terra parece morta, germina com a força de uma árvore intemporal, qual embondeiro ou palmeira centenária.

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São três da manhã na borda de um veleiro em alto mar. Há um horizonte azul escuro e brilhante. O marulhar é belo e há um intenso cheiro a paz. Não esperes palavras fáceis nem subtilezas. Nem diplomacias ou socialmente correcto. Não peças também a brutalidade das palavras ou dos gestos como quem se afirma pela negativa. Sou tudo o que sou. Sem nada ter. Mas tendo tudo. Convoco-te. Vamos. Há muito para ser. E o cantar das sereias não será uma poesia.