8.5.11

A POLÍTICA E A MORAL


As pessoas estão em primeiro lugar. Se as estruturas não servem as pessoas, não há humanismo. Temos de saber o que está errado nesta democracia. Tem de se chamar pelos nomes às manobras dos oportunistas. E à teimosia, ou cegueira, dos obstinados. O que conta é o pragmatismo em detrimento de valores, coerência pessoal, visão consistente, linha de rumo. Mas conta a imagem ou  saída a jeito. Onde falha a cultura e a moral, não há nem humanismo nem humanização. E pensamos que o problema é meramente político: não é. O nosso dilema não é só financeiro. Muito antes da crise ser económica e financeira e de justiça, foi escolar. Deixou-se correr. Porque, antes de ser escolar, já era cultural. É uma crise moral. De princípios, valores, referências. Sob a capa de respeitar a liberdade de todos, o liberalismo limita-se a promover o favorecimento dos que podem a expensas dos que precisam. E os frutos disso estão à vista.

Precisamos lembrar-nos que somos pessoas e não números. Que somos mais do que matéria. E precisamos de manter no horizonte a ideia de que tudo será melhor, sob pena de claudicarmos e rebentarmos com a pouca esperança. Isso explica porque muita gente ainda gastou mais nos últimos tempos. Falta-lhes a esperança, qual doente que moribundo não se importa já de falhar a medicação. Mas precisamos do sonho e da esperança e do testemunho dos que estão habituados a ter tão pouco e que ainda assim partilham e sorriem. E, com dignidade e sentido do humano, seremos como os bombeiros de Fukushima no meio da crise. Importa ter dignidade. E acreditar que será melhor, que faremos melhor, mas também que remaremos noutro sentido: o de recusar a coisificação do Homem, de mandar às urtigas as referências e os valores, e sem ser moralista nem conservador, não incorrer em culturas estéreis e políticas aberrantes que, paradoxalmente, legitimamos no voto.