16.7.12

HIGIENE MENTAL



Pensamos na morte e paralisamos. Pensamos no futuro e tolhemos o presente. Pensamos no passado e arranjamos outras ansiedades. O desemprego é uma fatalidade, o desamor também, assim como a doença e a velhice. Mas tudo isto está mal. A pessoa mais saudável, jovem e abonada, tem problemas exactamente como as outras, sofre de ansiedades e emoções negativas. Parece então que aquilo que tomamos por garantido e objectivo pode, afinal, não o ser. Não apenas o outro que tem tudo o que eu não tenho e me faz infeliz também tem, afinal, inquietude, insatisfação e ansíedade, como aquilo que reclamo como causa do meu sofrimento, pode nem sequer exístir.  Por um lado, trata-se de agigantarmos as coisas, de anteciparmos sempre os piores cenários, de vivermos uma ilusão com tanta força que o cérebro a lê como real, e sofremos ainda mais; por outro lado, se perante um facto objectivo e não negligenciável, é a nossa atitude face ao mesmo que determina a serenidade - e com ela a capacidade de o resolver - ou a ansiedade e irritação.

De entre todos os animais, somos os únicos com a noção da morte, de sabermos que vamos acabar, o que por si deveria ser já um estimulante para viver cada dia com a regra de ouro do Aqui e Agora. A dimensão psicológica ou espiritual, é outra grande demarcação do homem em relação aos outros seres vivos. Apreciar o belo, o natural, o prazer de assistir a um filme, um concerto, dançar ou ler um livro, a própria realização/preocupação no trabalho,  tudo isso provém desse indissociável estado espiritual e psicológico. Um crente encontrará na fé um meio óptimo de encarar a morte, mas não a deixa de temer, porém mais sereno e confiante no Pai que o acolherá e perdoará muitos dos seus erros. Um agnóstico ou um ateu não deixa de ter dimensão espiritual, mas mesmo pensando na morte como o fim de tudo ou o vazio, não deixa de sentir apreensão, receio ou medo, e são sempre tantos os que, quando se aproxima o fim ou nos momentos finais, descobrem outras latitudes dentro de si que revelam essa dimensão espiritual que muitos julgavam não ter.

São sempre os outros, a nossa relação com eles e connosco mesmos, que determina, quer o modus vivendi, quer a maneira como chegamos ao fim. Tal como dizia no início, pensamos no futuro, na morte, no passado ou na doença, e paralisamos. Geramos uma tal ansiedade, que muitas vezes se torna crónica, e a insatisfação e infelicidade instalam-se sem nos apercebermos que muita é iludida da sobrepreocupação dos nossos pensamentos e emoções. E nesses hiatos de tempo, muitas vezes continuado e colado à pele, estamos pior que mortos, já que também estamos em sofrimento, mesmo sem nada sabermos do que é a vida depois da vida.

É, portanto, a atitude face aos problemas, a nós mesmos e aos outros, que determina a nossa felicidade, assim como o domínio do pensamento. Se o conseguirmos reconduzir e orientar, estamos a controlar as emoções, já que estes as precedem e, dessa forma, a optimizar os nossos próprios recursos, a viver em plenitude, uma vez que sem serenidade e sem paz, nunca encontraremos soluções para nada, a agitação será constante, e a maior parte das vezes infundada, e andaremos sempre a antecipar problemas que poderão nunca existir. E a serenídade e a paz, é também não deixarmos de ser afáveis e jovens de espírito independentemente da idade, requerendo sempre uma boa dose de humor e alegria. A nossa atitude mental e bem estar espiritual são, afinal, o segredo para a superação dos nossos piores medos. Cabe-nos essa higiene, mesmo que nem sempre fácil, mas obviamente possível!