31.8.12

REGRESSAM, PARTINDO

As férias acabam. O ramerrão começa. Todos voltam aos lugares. Despiram-se anseios, descansou-se a alma, mitigou-se a diária chatice. Mas muitos ficaram. Sem brilho e sem luz. Agarrando-se aos muros de cartolina que projecta a ilusão de um castelo bem guardado onde habitam seres de papel, inermes e leves, que não precisaram de se perfilar como os que agora regressam porque já lá estavam, escudados em doze meses pintados a carvão, por vezes rasgados e reconstruídos com a fita cola da vida, e ninguém nota, ninguém vê! Vão continuar perfilados, viajantes cansados de uma bola de cristal, esperando pacientemente a sua vez, a sua glória, a sua luz, até que o relógio lhes páre o tempo. Depois virá o mármore frio que encerrará a espera, ou as campainhas que decidirão quem acolher. Ainda que partam, algures ficou gravada a natureza do sangue que luta e espera. E dessa prova de vida, começará a nobreza de um espírito imortal...