4.8.13

A IMPORTÂNCIA DE SER

Todos gostamos de férias. É uma das melhores coisas. Mas fazemos férias como se fosse uma interrupção da existência, tal como desejamos bom fim de semana para só voltarmos a falar na segunda feira seguinte. Fazer férias não é tanto a desbunda hedonista, mas a descompressão, o retemperar das forcas vitais, lembrando-nos que também somos alma, espírito, essência - que cada um entende à sua maneira - e nesse descanso também físico e psicológico, encontrar o acolhimento e a disponibilidade interior que nem sempre temos.
 
Se me pedissem para me definir, seria pela simplicidade. Esta, subentende também a humildade e a alegria, mesmo quando não vislumbramos caminhos e só apetece afiar o dente. Simplicidade é estar de mãos abertas e alma receptiva, e como sempre costumo dizer, não se deve confundir com ingenuidade mas requer inocência. Estamos muito habituados a erguer camadas sobre camadas de defesas, mas sem entrega e sentido de humor, desumanizamo-nos. A sociedade não é mais do que a soma de cada um de nós, pelo que nem sempre colhe o argumento do "é assim", mas coragem para sermos.

O que é o essencial nas nossas vidas? Até aqui a confusão se instala, de tão endémica pertença às coisas e situações, e pouca às pessoas. Apegamo-nos a coisas, muitas coisas, como se pudéssemos dormir com elas ou receber o afago na solidão e dor. Em tantos locais do mundo, como África e outras comunidades, as pessoas vivem literalmente do essencial, sem invalidar as suas festas e rituais, que entre nós costumam ser mais para a foto com nomes pomposos como sunset party, entre outros eventos onde duvido que a felicidade resida. É tudo muito bom, claro, mas se pensarmos duas vezes na vida social que se leva, e se realmente queríamos ir se não fosse o convite, vamos acabar por perceber que no fundo dispensaríamos tanta dessa actividade, e teríamos mais espaço e muito menos stress dentro de nós.
 
Uma vida com o essencial nunca começa pelas coisas, passa por elas como cores que nos alegram a existência mas detém-se sempre no encontro. É uma palavra muito importante. O encontro. Connosco e com o outro igualmente cheio de tanta defesa. É esse encontro que faz pulsar as fibras humanas que se vitalizam e engrandecem, porque soubemos que viver não é acumular coisas ou preencher a agenda, mas este descalçar do mero "eu social", numa partilha que cabe a cada um fazer e descobrir.
 
As férias deviam ser sempre uma belíssima oportunidade para retemperar forças, como quem massaja a alma, como quem vai nutrir-se de vida, ou quiçá espaço para reflexão de onde estou, por onde caminho, onde quero realmente ir, e dessa forma, sujeitar à existência o supérfluo e o que pelo hábito julgamos ser necessidade, quando afinal a verdadeira necessidade está sempre no encontro connosco e na efectiva capacidade de amar...