6.3.14

DA NECESSIDADE DA PARTILHA



Sempre que procuro na mochila do caminho a minha bússola, vejo-a avariada na marca da fragilidade! Guardo-a de novo e visto o manto invisível da entrega, como quem sorri desajeitado, e a bússola transfigura-se em pedestal inexpugnável, alimentando também ela a ilusão social do mais forte, do sucesso e do melhor. Os outros passam com outras tantas certezas, falaciosamente iguais às minhas, mas ao contrário deles, agito constantemente a bússola escondida entre as mãos, para que a agulha perca o defeito teimoso da polaridade! Por vezes isso faz avariar a de quem ostentosamente passa, e faz-se luz e caminho, sorriso e amor, como se nunca tivéssemos partilhado ou percebido a humana comunhão do ser.

Se da força dos ideais e da verticalidade dos princípios não abro mão, descontada a dinâmica do que possamos relevar, sou sempre esta presença em silhueta marcada nos céus de quem naturalmente se dá, como quem não cobra por aquilo que sendo nosso é gratuito, já que nada temos que não seja verdadeiramente oferecido. E sem registar créditos que pertencem à vaidade fátua do ego, prossigo a caminhada, confesso da necessidade de que só somos no outro e, por isso, pronto também eu a oferecer as mãos e os abraços... E a alegria faz-se autêntica, e não já a sopa insípida dos sorrisos sociais em enfermas muletas de quem verdadeiramente nem sabe que está só...