15.11.14

EXPOSITORES DE VIDA

Não é por acaso que a partilha é o elemento nevrálgico das redes sociais: não apenas a das coisas comezinhas, do tempo e do futebol, dos selfies tirados, das opiniões sobre actualidade ou das recriminações do costume numa espécie de má língua sem grandes ponderações prévias, mas também de toda esta outra linguagem que comunica por músicas e sons, textos e comentários, vídeos e likes, a insatisfação que tentamos lograr numa espécie de comunidade que, não sendo terapêutica, tem esse valor, dado que só na partilha e interacção o homem se faz! Se assim não fosse, o facebook não pululava de fotos, opiniões sobre tudo e todos, constatações anódinas do quotidiano, factos e argumentos, convites, mostra de pequenas realizações pessoais, estados de espírito e tudo o que assistimos, recados velados e directos, publicização do eu, vanidades sociais, etc., numa inconscencializada e invisível espécie de entreajuda que tanta vez aparece assim dissimulada, em posts solitários de fotos ou selfies alegres, sem que todavia o interior esteja preenchido. Podemos não ser os melhores terapeutas internautas uns dos outros, mas mesmo não sendo esse o objectivo, é assim que a coisa funciona, um serviço mútuo pelo simples facto de nos lermos e seguirmos uns aos outros, por mais banal que seja o post, porque o mero facto de postar evidencia já em si qualquer coisa... O mesmo raciocínio com a blogosfera, onde apenas difere o timing, aqui supostamente mais demorado e menos instantâneo do que a voragem do facebook e muito mais ainda do twitter. Um livro é diferente: está ali num expositor, chega-nos às mãos, e torna-se um cúmplice nosso, um amigo temporário mas sem reservas e confidente. Quando fecho um livro sou sempre tomado por uma espécie de nostalgia por ter chegado ao fim. É como se me despedisse do autor!  Mas mesmo sem grandes conversas, a exposição directa ou mais dissimulada de cada eu, encontra nas redes sociais uma praça pública cuja energia tácita as alegra ou incentiva nalgum momentâneo encalhe que naquele momento urgia partilhar! Num livro falamos entre portas, e é aí que a comunhão se faz...