1.4.15

O MEU KARMA É O TEU

 
Não são as estrelas e os planetas que afectam o nosso modo de vida, como diz a astrologia; são as nossas acções, as nossas palavras, as nossas atitudes e também a ausência delas, porque também se faz muito (para o bem e para o mal) mesmo não se fazendo nada. Outorgar às estrelas que vou ter uma semana dos diabos ou uma 4ª feira feliz, é o mesmo que atribuir aos anónimos transeuntes a responsabilidade por eu ir numa direcção em vez de outra.
 
Não são os astros que me dedicam um mês fértil, propenso ao amor ou realização profissional, ou que tenha cuidado que um cão me pode morder; são os circunstancialismos que não dependem de mim, mas sobretudo as minhas acções e omissões, que dependem só do que decido fazer. E sim, as minhas omissões também. Dizermos que não fazemos mal a ninguém, pode ser afinal maior erro do que o erro como o concebemos. Devia haver o Dia Internacional da Responsabilização por Omissão. Porque estamos todos comprometidos uns com os outros, até pelo silêncio! Como a borboleta que batendo as asas num continente provoca um tufão noutro... E por isso mesmo os que pretendem estar sossegadinhos no seu canto, estão muito mais expostos do que julgam, porque somos todos convocados a intervir. De resto, o silêncio não deve ser confundido com a inacção. Há gestos que valem mais do que palavras e as atitudes valem sempre mais do que as intenções.
 
O mesmo com o karma. Não existe karma nenhum que não o pedaço que cada um de nós inevitavelmente carrega, fruto da própria condição humana. As estrelas não se conjugam a meu favor nem contra, nem existe o tal karma que tenho de passar, porque está ali algures a atormentar-me a vida. O karma são os outros e eu mesmo quando não tenho lucidez bastante, humildade suficiente, inteligência que baste... O resto somos nós a arranjar desculpas para o que fazemos...
 
O Homem tem tanto de bom como de repugnante, mas é nos intervalos dos extremismos que somos e nos ajudamos, quando descobrimos que não temos de carregar destinos kármicos que nós mesmos construímos, sem nos apercebermos da dimensão autopunidora do seu próprio destino...