24.2.17

EGOS IGNORANTES E BALOFOS

A entrega, quando gratuita, faz-se dádiva e é aqui que reside o mérito: no sairmos de nós, no sairmos das palavras e ir ao encontro mesmo de quem não conhecemos. 
 
Há solidões disfarçadas, mansões desabitadas, cruzes que se carregam sem ninguém imaginar. Pode até parecer patológico, mas são apenas defesas propostas pelo inconsciente para mascarar a própria fragilidade.
 
Os sentimentos mais nobres geralmente são os que se intuem, porque tal como um pobre envergonhado, dificilmente exporá em praça pública a sua condição, porque a sua dignidade não está comprometida. E, é também por isso, que a inteligência sem sensibilidade vale muito pouco porque é um mero instrumento ao uso da razão. Ou seja, todos estamos comprometidos. Ou ainda, como diz Pessoa "ser austero é não saber esconder que se tem pena de não ser amado".
 
Darmo-nos é um acto só dos grandes e do alto da sua redoma de vidro, talvez muitos sejam pequenos para isso. Assim como receber implica a gratuitidade simples e amiga, como quem abre as mãos reconhecido e não as fecha nos punhos do ego sem razão...
 
Há dias foi o dia dos gatos; eu gosto mais de cães. Mas celebrar os animais é apenas outra forma de celebrar essa osmose de afectos e de amor, que entre si os humanos tanto rejeitam mesmo precisando...