14.3.17

PRITZKER DO AMOR

1. Não há arquitectura no amor... nem matemática, nem geometria. Um amor muito calmo, pensado, ponderado, sem variações emotivas, pode ser muita coisa mas não é amor...

 2. Desenha um esboço. Imagina as arestas e a profundidade. Junta os materiais, concepciona o espaço e as variáveis arquitectónicas. Manda executar. Pronto. Aí está o edifício giraço, moderno, à medida do desenho e do papel, e do estudo feito para a sua concepção. Há ali muito trabalho, muito empenho, mas não há amor. Há apenas arte. 

3. Desenha um jardim. Um espaço. Permite que alguns elementos se agreguem por si. Pedaços de relva, pequenos caminhos de terra batida ou cimento, bancos, fontanários, jardins suspensos... Não os idealizes em sítios exactos. Tem apenas a noção de não ficar tudo caótico, mas em harmonia que convida a visitar. Deixa que o resto se altere por si, e que alguém que passe mesmo quando estavas a projectar tudo tão certinho, desarrume no bom sentido o que até ali não tinhas pensado. Vai arquitectando assim. Hoje um plano rigoroso para as abóbadas da catedral e para os frontispícios que queiras fazer; amanhã um elemento em que não tinhas pensado mas deixaste ficar mesmo sob pena de pensares que te vai arruinar o projecto e os planos. Porque nem tudo é rectilíneo na vida. Nem sequer o que concepcionámos. E é nesta construção que nos diz que a vida não é dicotómica, mas uma constante dinâmica, que perceberás que mais do que um mero exercício técnico, arquitectónico e artístico, desenhar linhas e envolver espaços e design, é também desenhar o sentimento, como a amplitude do Taj Mahal, que fazendo-se de pedra mármore numa brutal imponência, nasceu do desejo de homenagear o próprio amor, e só depois os arquitectos compuseram o monumento, não como um exercício meramente estético ou artístico, mas como a prova física de um sentimento que o fez... Há ali muito trabalho, muito empenho, mas não apenas arte. Há amor... 

4. Não há arquitectura no amor... nem matemática, nem geometria. Um amor muito calmo, pensado, ponderado, sem variações emotivas, com medo de se entregar, pode ser muita coisa, mas não é amor... Na arquitectura dos afectos, não existem seguros de vida. Só a confiança no próprio acreditar...