22.11.17

POEMA DE TI

Na noite silente, calma e amiga
comungas a dor,
E na alvorada constante do teu desencanto
sofres a vida em tristeza e temor.

Aquieta teus olhos pousados no chão
Pacifica essa noite existente e vencida
Reergue-te assim do abismo gracio
Onde as asas te consomem no sonho perdido 
E de olhos no céu e com mãos em dádiva
Mãos abertas de piedade e mágoa
Sorri, afinal, pela tua oração
acordando baixinho de um sono refém
E na luz do olhar, do deserto e da noite
Encontra as pegadas que um dia perdeste
Levanta-te pó, cinza e cera
que as velas da vida maceraram em ti
Na morada caótica da aflição e dor
Moram também espamos de luz

Faz-te e refaz-te
com tudo e com nada que tenhas em ti
E o vento que lava, que traz e que leva
adormece no colo do desejo e sentir
E retomando, por fim, o mesmo caminho
em glórias e fracassos de um único ser
entrega-te ao dom, à vida e à morte
em sois de alegria perturbada e veloz.

Teus olhos cansados dizem na noite 
o brilho da luz.
E num deserto sereno
erguem-se, também, poços de amor.
Luares da alma em gotas imensas
saciados de paz
E serás para sempre imagem cravada na chuva que dorme.
E em ciclos eternos de dor e de paz
Em convulsões amenas de um hábito antigo
Descobres que não há universo sem ti
Nas constelações perdidas dos que teu mundo povoam.