18.12.17

NATAL (PARTE II)


No enfrentar sereno da vida, o amor é a condição fundamental. Podemos ter vidas espantosas e empolgantes ou extraordinariamente simples e discretas. Podemos ser conhecidos para o bem e para o mal, ou praticamente ignorados pelos holofotes da fama, mas aquilo que é decisivo é o amor, dado e recebido, nesta escolha que é necessário fazer todos os dias, e que tem também a ver com o escutar a alma.
 
Também a confusão de sempre, de que o Natal é aquela época do consumismo puro, das... prendas e galhardetes! A deturpação dos símbolos, com centros comerciais transformados em viveiros de oficinas ambulantes do pai Natal, e a azáfama de baratas tontas que acomete as pessoas em particular no dia 24, é natural que muitas pessoas não se identifiquem com a época.
 
Dou tanto mais valor aos dias anónimos do ano, aqueles de 2ª a 6ª em que ninguém se lembra de ninguém e muito menos são épocas festivas.... Como nesses dias sabe bem uma sms, um livro, um sorriso, um gesto, um estar uns momentos fora do ruído no fim do dia, presentear abraços e presença! E, sendo assim, parece que as prendas institucionais do Natal perdem maior significado, porque sabemos presentear durante todo o ano com amizade imaterial e em gestos concretos de amor.
 
Um grande violinista tocava uma música celestial na Central Station em Nova York, com um violino Stradivarius valioso (3.000.000 de dólares), mas ninguém lhe ligava. O mesmo violinista tinha tocado uma semana antes no teatro principal de Nova York diante de uma plateia entusiasta, onde o preço de cada bilhete de entrada era pelo menos 500 dólares.
 
É a velha questão que costumo falar de darmos valor ao socialmente correcto e aceite, de idolatrarmos os famosos só porque o são, sem reconhecer intrínseco valor a outros que socialmente não estão nos holofotes mas têm essa centelha divina da importância que farisaicamente apenas reconhecemos nos que já estão creditados!
 
E então, nesta sociedade consumista e materialista, onde só se fala de finanças, não haverá lugar para valores que não têm preço? Não haverá lugar para a gratuidade?
 
"Vai onde não possas/
vê onde não vês:
escuta onde não ressoa
e assim estarás onde Deus fala" - escreve Angelus Silesius.
 
 
Isso, meus amigos, independentemente das crenças, é Natal!