22.1.18

DA URGÊNCIA DO PRESENTE

A intensidade do presente revela-se de particular importância quando há muito se vive hipotecado no futuro, almejando mais e melhor, mundos idílicos e sonhos que tantas vezes não acontecem. Existe um consentido abandono no presente que começa logo em criança. Que queres ser quando fores grande? E que, quando já adolescente, se pergunta mais a sério: tens namorad@? E depois, quando casas, e depois de casado quando vem um nené, e depois do filho, quando vem outro? e depois de outro, quando é avô/avó? e assim sucessivamente fazendo com que cada etapa valha nada e colocando sempre no futuro o real interesse (que, obviamente é fictício e não passa de curiosidade).

No dia a dia, no presente de cada um, deve valorizar-se o que somos, o que temos, como amigos, família, trabalho..! E, todavia, descartamos sempre para um futuro mais ou menos próximo, a plenitude de qualquer coisa, no status, na pessoa, no poder, no que quer que seja. Isto é, demitimo-nos de viver cada dia com maior intensidade, de sermos em plenitude a cada dia, a cada instante, a cada agora, e não remeter para amanhã (que quase sempre não chega a acontecer como sonhado) o que podemos já fazer hoje! 

Um ideal é isso mesmo: algo inalcançável, de uma perfeição tal que não se obtém. É por isso que a melhor definição de felicidade é aquela em que vivemos e sentimos o momento, o agora. A ideia de uma felicidade próxima ou distante, mais como fruto de sonhos do que propriamente de real concretização, por um lado desresponsabiliza-nos (pensamos nós, porque a responsabilidade está lá sempre), e por outro, relega para uma suposta melhor altura, aquilo que queremos ser e fazer. Ora isto só pode ter a ver com as condições ideais, mas cada dia gera em si a condição ideal correspondente que tem de ser agarrada, percebida, interiorizada, sob pena de vivermos sempre emprestados ao mundo e à vida, aguardando o tal momento que nunca chegará, pelo menos da forma como foi idealizado!

É hoje, aqui e agora, pelo uso de tudo o que somos, que nos devemos manifestar, realizar e ser. E o mundo seria com certeza bem melhor, se das intenções se passasse à efectivação prática da amizade, da inteligência emocional, da simpatia, da entreajuda, dos valores universais do bem, e até as depressões seriam muito mais debeladas porque havia o abraço, uma desconstrução do anonimato, uma partilha digna de pessoa, e não de um ser amorfo e distante metido nos seus pensamentos e egoísmos...

Quando chegar uma idade maior, é nesse outono de vida que vamos buscar as lembranças, não de ontem,  mas de toda uma vida. E tê-lo-á sido? Como justificaremos a vida? Claro que nessas idades continua a dar-se muito, mas já não se vai a tempo de atalhar aos 30 e deixar a sua marca, o seu alcance de entreajuda mesmo que apenas psicológica e moral. 

Cada um é o seu próprio potencial de felicidade. Colocar em cada dia toda a sua presença, sorrindo, sendo, amando, deixando para os chateados da vida as recriminações de que está sempre tudo mal (mesmo quando está) e para outros tantos, que só descansam quando vêem o outro aparentemente deitado abaixo, numa traída confissão de que estão dependentes do valor dos outros para se darem importância a si.

Aquela ideia de que devemos fazer tudo como se o amanhã não existisse, não é de forma alguma populismo ou despeciendo. É já a mão da vida a avisar diacronicamente que somos melhores e nos realizamos mais se o fizermos a cada dia, a cada momento, e não em intermináveis planos que nunca se concretizarão nesse êxtase e idílio com que é sonhado. 

Dois, três ou quatro grandes projectos para o futuro e pouco mais, porque os outros projectos são compagináveis no presente, neste tempo, no agora, mas de tão habituados a termos de ser sempre tristes e cinzentos, e porque o totoloto não nos sai, pendura-se ali numa prateleira de pendentes as gratificações emocionais que, afinal, podemos ter já! 

Adiar a dita felicidade para pequenos sonhos, fazendo deles a gaiola do-que-não-se-é  e/ou  do-que-há-de-vir-a-ser, é resvalar para a existência aquilo que, obrigatoriamente, tem de ser vivido. Caso contrário, damos por nós sem património próprio e em luta contínua quando, olhando para trás, não virmos as pegadas na areia...

Existe muito de falta de atenção connosco mesmos, nos momentos que não fazemos de relaxamento, de silêncio e de interioridade numa sociedade onde o redutor e o acessório passou a ser o essencial. Precisamos de ser nós, e precisamos de ser já! Porque a vida faz-se agora, a cada dia e instante...

7.1.18

PROZAC 0 HUMANO 1

Vivemos amassados por tanta informação, anestesiados no poder tecnológico, no bramir do dinheiro, na angústia do futuro, e mal sabemos o que é a comunicação da alma. Falamos sobre tudo, mas somos ignorantes da nossa própria condição. Habituámo-nos à personagem e não à pessoa. Falta humildade e serviço, bondade e modéstia; prevalece o ego e o endeusamento da finita razão.
 
A opinião passa a irrefutável certeza, o amor a orgulho, e rasgamos as estrelas até perdermos a mão no In...finito, onde nem a noite nem a luz nem nada nos abre os olhos para a obesidade de seres informados mas pouco formados.
Vivemos numa sociedade de taras, de sociopatas, de emergência do ruído, de palmadinhas nas costas. Ridicularizamos quem caminhe em sinal contrário, somos cordiais mas pouco autênticos, julgamos sem receios e tornamo-nos menos pessoas.
 
Falta-nos conduzir o Tempo e não de ser levados animalescamente por ele. Falta-nos soltar as palavras belas e inconfundíveis como se fossem pequenas fontes de água fresca e não uma sucessão verborreica a imitar um esgoto que a espaços convulsos deita água suja ao mar. Falta o Encontro. Aquele em que saímos de nós para o podermos ter verdadeiramente!
 
Falta-nos a leveza do ser.
 
Mas existe um remédio. Um remédio natural. Só se perde quem não sabe, não quer ou não pode amar. Um amor que preencha e complete a essência que somos e para a qual fomos destinados, um amor também universal, não apenas íntimo, mas também afectivo, que nenhum Prozac, nenhuma experiência de vida, nenhuma filosofia nem nenhuma energia cósmica, poderão alguma vez substituir.

1.1.18

LIBERDADE E ESSÊNCIA

Gosto de ser livre, despido dos cânones sociais e dos respeitos humanos, das quotizações intelectuais que enclausuram o espírito, de não ter problema algum em educadamente expressar o meu sentir sem limitações de ficar ou não bem nos círculos intelectuais e sociais, de brincar com as situações, de ser simples... Mas é preciso também muita interioridade. Precisamos, não apenas de não estarmos presos a uma credibilidade social que é fantasiosa, como de não deificarmos o ego.
 
A razão é cega, não vê as coisas como elas são, não olha para o homem como ele é, não olha para a realidade como ela é, não olha para o mundo como ele é! E é por isso que não se surpreende com o espanto, com a novidade, nem regista a mudança.
 
Somos um todo e não apenas cérebro, somos muito mais do que nervos, tendões e ossos, e é a emoção que comanda as nossas decisões, mesmo quando supomos o contrário. Precisamos de nos elevar acima da maledicência, e consciencializar que somos também dádiva, entrega, amor, espírito, alma... E sem essa percepção interior de quem verdadeiramente somos, continuaremos num silogismo existencial, outorgando à fantasia social o que não é, e à razão aquilo que não lhe cabe...
 
No início de mais um ano, com tudo o que tem de psicológico, os meus renovados votos de um caminho interior que desemboque sempre na essência, e saiba fugir à superficialidade das coisas