13.6.18

SANTO ANTÓNIO, FESTA E SOLIDÃO

Instintivamente somos impelidos ao Outro, somos impelidos à comunhão, está inscrito na nossa consituição como seres humanos que só somos com o Outro! É natural que, para além dos pregões,  santo António receba tantcartas e pedidos! De amor e de amizade!
 
 
Santo António já cá está, segue-se o São João no Porto e em Braga, São Pedro em Sintra e, claro está, um arraial colectivo um pouco por todo o país. As Festas dos Santos Populares não são o Teatro Nacional de São Carlos, uma ópera, um concerto de música e...rudita, uma palestra literária ou um bailado russo. Também não são um concerto de música hard-rock, eléctrica ou uma rave. Podem ser, aqui e ali, um misto de canções populares com uma espécie de música de carnaval after hours, mas são diferentes. Também não é fado, que é do povo. É o outro lado do fado, é o lado alegre que o português não tem. Mas é também a Partilha.
 
"O meu bairro é liiiiiindo" não cheira a competição mas a partilha. As pessoas saem de casa e sentem colectivamente momentos assim, porque a noção de pertença e de partilha estão intimamente ligadas, convocando do fundo de nós a saudável abertura de um abraço a um desconhecido, como um único coração na praça grande que são as ruas e a vida.
 
É assim que a humanidade se humaniza. Na partilha!
 
Mas voltemos ao início: a quantidade de pedidos secretos de amor e amizade, é sempre maior do que supomos; a vida é dinâmica, uns casam, outros namoram, outros suspiram, outros acham que têm muitos amigos, outros simplesmente não têm nenhuns, outros gostam de estar sós, mas não é desse silêncio salutar que falo, mas da solidão de quem não tem companhia, excepto a intervalos avulsos que serão sempre insuficientes para uma maior doação e realização como pessoas.
 
Resta-nos oferecer gratuitamente o nosso sorriso a quem passa, reconhecer e intuir as dores escondidas, perceber que nem todas as alegrias são alegres mas que também nem todo o sofrimento é dramático, e com manjericos ou martelinhos, com cartas ou sardinhas assadas, com selfies ou pinotes, há sempre alguém que está só...