17.5.19

DIA INTERNACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA

O preconceito é uma defesa ignorante do que não conhecemos. O Parlamento Europeu e a ONU declararam o dia 17 de Maio como Dia Internacional contra a Homofobia. Ora é muito claro que uma pessoa homossexual difere de uma heterossexual apenas no género do objecto do desejo. Ostracizar uma pessoa homossexual, homem ou mulher, é o mesmo que culpar alguém por ter um metro e oitenta. Os falsos moralismos, a ignorância e a incapacidade da aceitação do diferente, são obstáculos às pessoas homossexuais (não a sua homossexualidade), acabando por se verem impedidas de se realizarem afectivamente, hipotecando o amor e, com ele, a capacidade de uma vida livre e feliz. Um absurdo total. O amor não tem sexo.

Somos fruto de uma cultura e também vítimas dela. Há que aceitar as diferenças, e de as pessoas viverem os afectos e a sexualidade na sua perspectiva psicodinâmica, e não apenas até onde as deixamos, sendo que, muito importante, não podemos restringir a sexualidade à genitalidade, e com isso não lhe perceber toda a sua linguagem e realização afectiva.

Na realidade, existe um estigma fortíssimo, directo ou omisso, contra quem não segue a suposta hetero normatividade. O problema não reside na diferença, mas na rejeição à sua aceitação, e confundindo isto, arranjamos um silogismo social e cultural que leva, no extremo, à pena de morte em determinados regimes, a sanções várias, ao bullying e à exclusão social.

Somos ignorantes da própria condição humana, e sempre que não percebemos conceitos básicos de respeito pelo outro, entramos em caminhos medievais de despotismo pessoal escudado no brilhante argumento da suposta normalidade. Poderá um peixe dar uma volta pelos céus, ou um pássaro viver debaixo de água? Se ambos não entenderem que a sua diversidade é também a sua identidade e razão de estar ali, que é a sua normalidade, vão passar a vida a tentar voar ou mergulhar, numa tentativa suicida de denegação existencial. E tantos são os que não se assumem sequer para si mesmos, deprimem e se suicidam precisamente por causa destes mimos colectivos e sociais de desprezo e marginalização.

E não se trata apenas de tolerar um comportamento; é muitíssimo mais do que isso. Porque para as pessoas amputadas à sua própria realização pessoal e amorosa por meros interditos sociais, é, além de uma desinteligência colectiva, um drama para os próprios, como se amarem fosse crime! Não escolhemos os pais, os colegas de escola, a condição física, como não escolhemos o género, a cor da pele, a raça ou a orientação sexual, tornando-se, precisamente por isso, um absurdo maior rejeitar as diferenças do e no outro; antes, devemos aceitá-lo como acabámos por aceitar pessoas que antes tinhamos como escravos por não terem dignidade de seres humanos (os escravos eram coisas), ou que sendo de raça diferente deviam ser toleradas na comunidade.

O senso comum é o pior inimigo que conheço, e é assim que estamos em pleno séc. XXI: com a Internet numa mão, e a pedra lascada da ignorância noutra! E no mundo dos afectos não existe bitola, regra, lei, norma, jurisprudência ou mandamento que diga como é. É como cada um sente, na liberdade de ser ele mesmo, o Outro, aquele a quem devemos vénia numa reciprocidade respeitosa e amiga de quem comunga a própria humanidade.