13.8.19

SER JOVEM É...

Escrevia, salvo erro, Camilo Castelo Branco, que "crescer é tornar-se adulto sem se adulterar". A 12 de Agosto, comemora-se o dia internacional da juventude, e se não devemos ser ingénuos, usando as ferramentas que permitam sem malícia, mas com firmeza, corrigir o outro, a verdade é que, da mesma maneira, nunca devemos perder a inocência. Ser jovem será sempre um estado de espírito, e é por isso que há jovens apáticos e adultos entusiastas!

Quando crescemos a afagar o ego e confundimos sobranceria e arrogância com auto estima, adulterámo-nos em vez de amadurecer, da mesma maneira que cerceamos a liberdade de sermos nós mesmos, sempre que nos rendemos aos cânones estabelecidos de uma quotização intelectual, de um status com atitudes pomposas, de cortesias para criar simpatia que de genuíno pouco têm, ou ainda quando sufocamos a vontade de educada, mas livremente, dizermos o que pensamos, não como quem critica, mas como quem partilha ou contribui.

Adulteramo-nos quando aplaudimos os fortes só porque têm um valor social, e quando relegamos os que, imunes às críticas sociais ou ao parecer canónico das modas, se sujeitam apenas a si mesmos, nos valores que verdadeiramente interessam... A juventude está na capacidade de sermos nós mesmos, que requer uma raiz profunda para aquilatar da qualidade humana, e dessa forma deixar confusos os que achavam que um aparente pateta ou zé ninguém, era, afinal, alguém com poder, doutorado ou CEO, mas cuja simbologia levou a descobrir quem verdadeiramente o rodeava. E também o contrário. Que aquele que fazia valer medalhas e ostentava os curricula sociais ou académicos, era, afinal, alguém pouco criterioso, interiormente pobre e humanamente repugnável. Mas também ainda a situação de quem, não tendo status, dinheiro ou poder, tem, afinal, uma sabedoria imensa de vida e uma delicadeza de alma, que tantos outros de renome jamais lhes chegarão a vislumbrar o início…

Saber ser jovem, é também saber ousar, arriscar o que em adulto parece mal ou não se faz, e confundindo tudo isto com classe social, perdemos a noção entre elegância e vulgaridade, porque elegante será sempre sermos nós na condição humana do abraço, e não o sorriso manipulado do jogo social... O oposto é que é vulgaridade!

Há uma diferença entre crescer e amadurecer. Já dizia Nietzsche "torna-te aquilo que és", e nós fazemos exactamente o caminho inverso. Não há mal nenhum em chegar sem gravata a uma reunião de doutores, em comer um iogurte lambuzando os dedos ou em preferir uma carrinha pão de forma a um Maserati para impressionar. Em pedir uma torrada com manteiga em vez de impressionar com um brunch, ou sujar-se a brincar com um cão que sem nos conhecer nos pede festas. Em chorar sem vergonha e em rir no meio da dor, não como quem a irreleva mas porque é demasiado forte para se aguentar, ou em ir descalço onde outros usam sapatos Armani. A diferença está na relevância e/ou necessidade que temos de dar para nos credibilizarmos a nós mesmos, mas o crédito vem de dentro, para poder suportar a dor com respeito mas sem se destruir, ou para poder abraçar quando todos fogem e acusam…

A ideia de felicidade, com tudo o que implica de viver a paz no meio da luta, e de sorrir mesmo com cinzas na alma, está ligada à maturidade emocional, não necessariamente ao crescimento. E isso requer liberdade interior para podermos ser verdadeiramente nós...

E então, comemorando-se hoje o dia da juventude, quantos de nós já não envelhecemos por dentro, rendidos ao embrulho e não à essência, e se crescer é tornar-se adulto sem se adulterar, então quantos anões não há por aí... Ser jovem é ousar. Ousarmos ser nós!