20.8.20

DOS NÓS DA ALMA

 


Só desapertando os nós da alma, insuflamos esse oxigénio de higiene mental que permite ver a vida em perspectiva, evitando as energias sem qualidade com que nos gastamos a sobrecentar os problemas!

Só arejando a alma e limpando a mente de emoções tóxicas e sufocantes, desbravaremos caminho para a libertação interior, que não se faz iludindo o que nos rasga a pele, ou negando o túnel sem luz onde tantas vezes nos encontramos, antes elevando-nos acima do próprio problema, concedendo-lhe apenas o espaço que tem, sem o aumentar nem diminuir, mas não lhe permitindo tornar-nos reféns dele!

A vida é dinâmica e o problema pode persistir, mas é a maneira como o encaramos que conta e não tanto a adversidade em si! Quando chove, enquanto uns se molham, outros apreciam a chuva; o que mudou não foi a chuva, mas a atitude face a ela.

E é por isso que é possível haver pessoas felizes no meio dos problemas, sem os negar nem os agigantar ou alimentar! Porque a paz é aquela que se vive no meio da luta, sem energias mal gastas ou pensamentos desgastantes e inúteis com que nos consumimos na voragem de querermos abolir tudo o que de mal nos apareça, mas não definha nem morre quem sente a alma devastada: definha e morre quem fica preso na dor, com lamento ou raiva, sem oxigenar esse jardim que é ele mesmo, capaz de sofrer e seguir em frente, porque assume a natureza humana e os seus contratempos pessoais como parte integrante da caminhada que não pode nem deve ofuscar a capacidade de nos darmos e de rirmos e brincarmos, não porque se nega, mas precisamente porque vale mais do que uma tempestade que só aparentemente parece querer ficar para sempre... 

E nesse caminhar mais lento, apressar o passo sorrindo e indo, porque a vida passa depressa e nós perdemos muito tempo a dar ouvidos à dor, essa que traz mais solidão e desencanto, cuja cadeia nos cabe quebrar além do que já é! 

Aceitar com serenidade o que não podemos mudar, mesmo que seja só por enquanto, mudarmos o que pudermos, colocar as coisas em perspectiva, e dar tempo à dinâmica própria existencial, estarmos além dos problemas, comungando com optimismo e esperança, brincando e relevando, num resgate psicológico imediato que só depende de nós.

Há tanto para amar e descobrir, tanto para sorrir e partilhar, mesmo nas noites mais escuras, e o tempo é sempre o Agora, mesmo que coxos em feridas que julgamos sempre que nos matam, mas que necessariamente vão passar... 

Há que saber viver a vida na nossa comum condição da fragilidade humana, sem negar o sofrimento ou a tristeza que tenhamos, como quem cuida da sua própria dor para melhor a suportar, mas também não negar à vida a sua força brutal e redentora, pulsante e pujante da criatividade e glória que tantas vezes lhe recusamos...