25.10.20

DO VALOR PESSOAL INTRÍNSECO



Não valemos mais do que ninguém, e ao ver uma foto onde um senhor idoso, - o bispo emérito Casaldáliga de S. Félix de Araguaia, defensor do povo indígena, a beijar a mão de um nativo (como Cristo fizera lavando e beijando os pés aos apóstolos que, naturalmente, se achavam indignos de tal gesto pelo mestre) -, veio-me à mente o termo grandeza! Porque, efectivamente, não somos mais do que ninguém mesmo que achemos que sim! A grandeza está no sentido crítico sem o tornar um julgamento, no saber ouvir as partes sem ficar com a versão de uma, no dar crédito ao outro pelo que é e não pelo que tem ou aparenta ser, no sabermos descortinar as más intenções por detrás de encapotadas simpatias e falsas cortesias.
A grandeza está também no silêncio em não corresponder à provocação, está em dar sem fazermos notícia disso, está em elevar quem não recebe mérito mas tem muito mais valor do que tantos idolatrados sociais. Como este bispo reformado que beija a mão do indígena, porque tem a mesma dignidade independentemente das medalhas sociais.
A grandeza está em cair, sabendo que se levantará, está em estar prostrado por terra sem retirar o sorriso ou culpar o outro, está em conseguir levantar-se porque teve a humildade de pedir ajuda e também de não se vitimizar.
A grandeza está em saber que os amigos são demais importantes, porque a amizade é um amor sem o qual cresceríamos mancos, mas também em ter a noção de que mesmo que nos deixem ou sorrateiramente se afastem até ficarmos só com cinco, dois ou nenhum, o nosso valor dependia de nós, e que, se se afastam, o problema foi deles, ou da inveja, ou da falsa genuinidade.
A grandeza está em apanhar uma carga de água até fazer um raio de sol sem maldizermos o mundo por isso, e de novo sorrirnos ao vermos ao longe no caminho alguém como nós...