28.12.20

REALIDADE E ESPELHO



Há tantos "sem abrigo" que são uma pérola humana, e tantas supostas pessoas virtuosas em montras vazias. Só posso reverenciar a simplicidade, a genuinidade e autenticidade, porque os defeitos nessas pessoas não são defeitos, mas o preço educado de se ter a coragem de sermos nós mesmos, sem respeitos sociais. O resto é vaidade do ego sempre sedento de altares...
É como os sorrisos amarelos, as falsas posturas, o políticamente correcto, a perfídia encapotada em amabilidades sociais, o angariar de crédito social pela denegação da autenticidade, a reverência aos já idolatrados.
A dissimulação dá a entender um ser perfeito, confiante e enérgico, mas a realidade convive sempre com os “apanhados”. Esse lado natural e espontâneo que dispensa o toque da roupa ou a imagem fabricada, a tecnologia de ponta ou a intelectualidade quotizada, os sorrisos que na realidade são o espelho do que detestam...

Para mim não contam tanto os dias festivos, mas antes os anónimos dias da semana. São tão mais importantes, porque são eles que forjam o resultado continuado. As festas, encontros, têm o seu lado importante, e mais do que isso, mas esgotam-se aí. Como diz a canção "Who's gonna drive you home?"

O que vem do coração a gente sente. A dissimulação da simpatia e amizade também. É por isso que prefiro os simples, os despojados, os que brincam para exorcizar os problemas e não porque não os têm.

Só assim se faz humanidade num mundo frio, porque o aquecedor será sempre a autenticidade, e não a hipocrisia disfarçada em simpatias envenenadas.

Let's mind our hearts, não o politicamente correcto ou artificialidade de não ficar mal na fotografia...

É nos dias de semana, nos momentos sós, nos dias comuns e anónimos, que precisamos dos gestos efectivos de gentileza e verdadeira amizade, não apenas nos fáceis dias de festa onde todos estão.

A noite prepara o dia mas não recebe os agradecimentos. As coisas grandes são para todos; as pequenas são, de uma forma ou de outra, para os que nos são mais queridos.

É por isso que amo os simples, os verdadeiros, os despojados, tantas vezes confundidos com ovelhas negras, mas que são, afinal, quem reposiciona o termómetro da Humanidade...