A Amnistia Internacional pediu que D. José Policarpo fizesse uma retractação. A Amnistia considera que as declarações de D. José Policarpo fomentam a intolerância. Ora a Amnistia Internacional adquiriu a sua reputação por lutar pelos direitos humanos mais básicos. A Amnistia Internacional devia, por isso, ter como prioridade a luta contra a discriminação das mulheres muçulmanas. Mas, em vez disso, opta por tentar suprimir as críticas a essa discriminação. A Amnistia Internacional devia defender todos aqueles que, nos países muçulmanos, são perseguidos por criticarem a religião muçulmana. Mas, em vez disso, prefere criticar quem faz uma crítica certeira à religião muçulmana. D. José Policarpo identificou correctamente uma das fontes de discriminação das mulheres no mundo muçulmano. Fez uma generalização? Claro que sim. Mas todas as pessoas inteligentes conhecem as vantagens e os limites das generalizações. As generalizações permitem chegar à essência do problema. Neste caso, a essência do problema é que os factores culturais e religiosos são a principal causa de discriminação das mulheres no mundo muçulmano. No entanto, as generalizações não se aplicam a todos os casos particulares, mas como nenhum de nós é estúpido, todos sabemos que não se aplicam. D. José Policarpo não terá sido intolerante? Dificilmente. A crítica cultural e religiosa é parte integrante de uma sociedade livre e tolerante. Tolerar implica também tolerar a crítica.
Sejamos francos e chamemos os bois pelos nomes: hoje em dia, é facílimo e até chique criticar a Igreja Católica, mas ai de nós se criticamos o Islão! Cai o Carmo e a Trindade! Levamos de imediato o carimbo de xenófobos, intolerantes, discriminatórios ou, pelo menos, ignorantes, por sermos «desconhecedores» de uma cultura diferente. Mas afinal, como diria o outro, que raio de democracia é esta?!
O estatuto legal das mulheres no islão dá razão ao patriarca mas levantou uma fúria no multiculturalismo. Ora o multiculturalismo só abre uma excepção na tolerância e no fascínio para abominar o exacto Ocidente que lhes permite existir.
O estatuto legal das mulheres no islão dá razão ao patriarca mas levantou uma fúria no multiculturalismo. Ora o multiculturalismo só abre uma excepção na tolerância e no fascínio para abominar o exacto Ocidente que lhes permite existir.
Não é aceitável, por exemplo, que uma alta figura da Igreja recomende cautela aos matrimónios inter-religiosos, mas aceita-se que imãs possessos preguem diariamente a extinção dos infiéis. Não é aceitável a influência da Igreja na sociedade, mas simpatiza-se com diversos estados estritamente submetidos ao Alcorão. Não é aceitável que a Igreja subalternize simbolicamente as mulheres e aceite os homossexuais como pessoas, não como estilo de vida, mas ignora-se e fazemos de conta que não vemos que a sharia reduza as mulheres à animalidade e os homossexuais sejam executados. Não é aceitável impor limites à liberdade individual, mas impõe-se a censura atenta aos críticos do multiculturalismo que sob o verniz ecuménico é completamente totalitário. E acusa-se de eventuais indícios de racismo ou xenofobia, mas promovem-se insultos ao "estado hebraico" em manifestações a apelar à morte...
As pessoas muçulmanas até podem ser tolerantes, óptimas pessoas, com valores de bem, mas porque por natureza não podem crer em nada mais porque nasceram numa família muçulmana, por mais tentativa de diálogo que possa haver, é a doutrina islâmica, o Alcorão, que está por detrás: a palavra do Alcorão prevalece sobre a pessoa, e foi isto que o patriarca tentou dizer. A bem de quem preze a sua própria liberdade e dos filhos que venha a ter, claro, como era o caso da conversa informal com jovens solteiras que o bispo estava a ter no casino da Figueira da Foz.
A Igreja Católica é susceptível de críticas (como tudo na vida), mas preza a liberdade do ser humano, dá orientações gerais e longe dela privar qualquer pessoa de optar em consciência pela crença, pelo agnosticismo, pelo ateísmo ou por outra religião e, sejamos verdadeiros, a doutrina não prevalece sobre a pessoa, apesar de ser firme. Como diz a Igreja: não há pecador: há é pecado. Ou como diriam os antigos nos adágios: "Primeiro a obrigação, depois a devoção, depois a diversão". Ou seja, a oração há-de ser uma manifestação pessoal e religiosa da pessoa na sua esfera íntima, pessoal e comunitária, porque o testemunho não se vive sozinho, mas como dizia S. Paulo "a fé sem obras é morta", i.e., primeiro tratemos das pessoas, do semelhante, e só depois (ou em simultâneo) façamos orações por elas (e por nós).
São estes pedaços de respeito absoluto pela dignidade e liberdade do ser humano, que o islão não tem e, que por isso, o bispo achou por bem, e para bem das próprias jovens que desconhecem a dinâmica que subjaz à doutrina do Alcorão quando casam e que invade todos os campos (religioso, cultural social, familiar e profissional), que D. José Policarpo quis dizer...