Só temos o direito de julgar os outros quando temos capacidade de nos julgarmos a nós mesmos. E essa capacidade não é uma virtude, ou tornar-se-ia num dom hipócrita. É uma descoberta quotidiana, pessoal, de conversão interior, i.e., de mudança de atitudes e de valores, pois há que repensar a existência e actualizar as nossas decisões.
Só o amor pode julgar. Por isso é que o caminho aberto no interior das nossas consciências e do coração, em harmonia de paralelismo, nos pode dar a convicção de estarmos certos ou errados - com tudo o que de relativo existe nessas palavras -, na aferição de juízo, quanto mais de um veredicto. Uma coisa é a convicção (realidade subjectiva); outra é a verdade (realidade objectiva).
A justiça é o acto de julgar o comportamento alheio pelas acções exteriores, castigando-o ou premiando-o, e assenta na fronteira mais débil que encontro no ser humano: a lei e o amor.
Julgar implica, antes de tudo, um humilde conhecimento de nós mesmos, já que se nos considerarmos impolutos únicos, símbolos de justiça e de verdade, de estrita obediência à lei, estaremos a ser o nosso próprio bilhete para a viagem à desumanização, ao fundamentalismo e, consequentemente, à injustiça...
Quando fazemos teoria somos os senhores absolutos da dialéctica, mas quando descemos aos factos, sentimo-nos superados por aqueles que os vivem. Sempre hodierna é a afirmação de Rousseau: "O homem nunca é suficientemente forte para ser sempre o senhor, se não transformar a sua força em direito e a sua obediência em dever"... A autoridade da justiça não reside nela mesma e muito menos na subserviência à lei, mas ao espírito que a preside. E é por isso que só o amor entendido na justiça do homem e nos valores éticos e morais, pode e sempre deve julgar.
foto-montagem: Daniel na tomada de posse do blog Sair das Palavras, envergando simbolicamente a toga ;)