Vou contar-te o meu cansaço e o meu desencanto e a minha luta.
Vou contar-te as madrugadas silentes e os sorrisos tristes.
Vou ainda dizer-te a desilusão de um caminho.
Vou contar-te as madrugadas silentes e os sorrisos tristes.
Vou ainda dizer-te a desilusão de um caminho.
Farei de ti um forçado confidente que por momentos se tornou cúmplice da abnegação e da alegria, da agonia do afecto e do riso escancarado. Perdoar-me-ás intrometer-me, mas de que é feito o Homem senão de Partilha e Solidão? Um dia sucede ao outro e a noite traz a madrugada, mas só há luz se o Homem quiser.
Vou partir para um laranjal.
Apanharei os frutos da experiência e colocá-los-ei no cesto do meu pensar. Talvez me farte. Talvez me apeteça o escritório no meio da grande cidade, e te apite de dez em dez minutos a avisar-te de uma nova vida.
Apanharei os frutos da experiência e colocá-los-ei no cesto do meu pensar. Talvez me farte. Talvez me apeteça o escritório no meio da grande cidade, e te apite de dez em dez minutos a avisar-te de uma nova vida.
Enviarei faxes e e-mails, bilhetes e pombos-correio para todos os cantos do mundo, e o destinatário serás sempre tu. Hei-de encontrar-te, ainda que escondido dentro de ti próprio. Uma luz perscrutará o teu vazio e ditar-me-á um coração. Dois mil anos de sucesso no progresso, mas então e o Homem?
Começas agora a perceber esta carta? Este é o momento de quem ainda não soube apear-se do cavalo da fantasia, para correr na direcção autêntica de si mesmo. Um dia sucede ao outro e a noite traz a madrugada, mas só acordamos se tivermos dado sentido à noite. Vou contar-te a experiência da Bondade e da Gratidão. Vou dizer-te a alma que cada homem traz aprisionada. Vou falar-te dos ingénuos da vida e dos falaciosos doutores. Dir-te-ei que o mundo não presta sem ti, mas tu também não prestas sem o mundo. Cuidado, porém! Viver no mundo não é hipotecar o ser.
Oh Homem, e se outros mil anos passarem sem que tenhas existido, que sentido é então o do mundo...?