Amig@s, por vezes recebo mails que muito agradeço. Um deles alertava-me para o facto de o meu blogue timidamente criado o mês passado já ter ultrapassado as duas mil visitas (no momento em que escrevo, 2.100). Fiquei contente (porque não costumo ir ver o meu perfil onde está o contador) e outrotanto apreensivo: para tão poucos comentários e/ou e.mails, isso significa que ele não deixa de ser lido! Partilhar é o que me move. Fico feliz por tod@s quantos me escrevem, pel@s que me não escrevem mas me lêem (a julgar pelo número de visitas) e, sobretudo, dedico todas as minhas visitas a todos vocês que me lêem, que me seguem, que me criticam ou elogiam. Obrigado. Para que fazemos blogues? Não é para partilhar? Então vamos nessa. Continuo aqui... graças a vocês, porque de que valem blogues se os não partilharmos com feedback, directo ou tácito?
Até já! :)
Hoje falamos em tudo menos naquilo que é o mais importante: nós mesmos! Ou seja, falamos das intrigas diárias, dos problemas reais e fictícios, das inopinadas correntes ideológicas e práticas, das infindáveis sensaborias quotidianas, das mazelas do sistema, das realezas da Internet, do "glamour" dos topos de gama, ou do escândalo a que não tivemos acesso.
Neste quadro falamos literalmente de tudo. Paradoxo: não falamos, afinal, de nós. De nós como pessoas, como agentes responsáveis de uma realidade que também é nossa! Esquecemo-nos de falar como vai o nosso tecido valorativo, a nossa ordem de valores! De nos interrogarmos sobre o que estes representam para nós e na sociedade em que vivemos. Esquecemo-nos de chamar a depor no tribunal da consciência, a dignidade, a honestidade e a reserva de dúvida. Relegamos o ser humano-essência para falarmos do ser humano-vestígio. Apoiamos e condenamos, anestesiados num poder que não temos. Admoestamos e vangloriamo-nos sem fazer referência ao essencial. Somos mestres do acessório, procuramos lógicas e compramos interesses. Afogamos com temperaturas irrealistas, bússolas e termómetros que acabamos por perder.
De que vale, afinal, o Homem? Não vale muito mais a "net"? De que vale, afinal, o Homem? Não vale muito mais o dinheiro? De que vale, afinal, o Homem? Não vale muito mais o poder? De que vale, afinal, ser Homem? Não vale mais ser uma simpático espertalhão? Dúvidas têm-nas os idiotas, os fracos. Incertezas e apreensões são próprias de pessoas, não de seres sociais, e de que vale ser pessoa? Não importa educar, pedagogicamente orientar! Importa dar o máximo de liberdade e protecção. Ou seja: não importa se crescemos numa sociedade pervertida. Importa que nos ensinem como nos safarmos e singrarmos nela. Mas então se está pervertida, o caminho a apontar não devia ser o da transformação e não o da protecção e ajuste? Isto equivale a dizer que se há muitos ladrões, ensinem-se novas técnicas de roubo.
No seu livro, François Miterrand escreve: “Achava que o mundo era belo e harmonioso; tive uma infância feliz, pensava que as amizades eram eternas, que os amores eram duráveis, que as pessoas eram feitas para se amar”. Sem dúvida que não devemos ser ingénuos, mas tal não significa que devamos ser uns humanos sonegados. Relembrar que não somos só animais políticos e sociais, parece-me cada vez mais urgente.
É bom lembrar que ser Pessoa não é crime, que ter valores não significa ser-se moralista, e que a dignificação não é sinónimo de fraqueza. Só nos falta dizer que todo aquele que não se socializar plenamente, deixando de ser ele mesmo no que mais tem de sagrado e humano, deve ser excluído da sociedade em que vive.
Se crescer é tornar-se adulto sem se adulterar, então quantos anões não há por aí?