1.2.09

Seres de Néon

Vivemos no limite. Uma espécie de transição convulsa entre o Tradicional e o Moderno, como se um destes estilos ultimasse os preparativos para o outro, vindo depois a agonizar. Afinal estamos na geração Internet, self made e dantescamente só.

Sem referências institucionalizadas dada a absorção dos modelos pelo progresso, cada um tem de aprender demasiado por si, agarrando-se ao pouco que tem do outro. Talvez mais tarde volte a haver referências, mas por ora o mundo não pode parar. E é assim que se encontra para venda o quadro deste nosso tempo. Felizmente, porém, há ainda licitadores que dão bom preço pela restauração, o que não invalida novos Cutileiros. Todavia, regra geral, a maioria dos pintores vai desistindo do seu estilo em nome de um futuro que obviamente não conhece.

Foi assim no início da última revolução cultural, e ainda hoje se paga o preço de chavões como o de um homem não chorar, ou tudo ser permitido excepto a depressão (ela própria consequência da voragem dos nossos dias).

Andamos carregados de símbolos sem lhes percebermos os significados. Vive-se um quotidiano feroz que contradiz a essência com a ilusão do superficial. O materialismo é um dado há muito adquirido, e o conhecimento tornou-se arrogância intelectual. Se nos devemos ajustar às novas formas de vida, tal não implica anular todo um património onde apenas se deve peneirar o preconceito. Mas daí ao libertismo de uma vida onde cada um se esgota em si mesmo, é abusivo da nossa própria condição. Porque o nosso erro não é o progresso (mal fora), mas confundi-lo com um senhor que se apropria inexoravelmente de nós. Ou seja, se não devemos andar com candeeiros de petróleo, também não precisamos de luzes de néon para poder ver melhor! Essas luzes deviam servir para dar outras cores às ruas, e não às nossas vidas. Mas infelizmente tornou-se hábito dar valor às coisas.

E é por isso que não sabemos dar-nos...
Mesmo a quem não conhecemos... Quando ousaremos ser?