30.4.09

FIZ EM TI A MINHA VIDA

Até onde devemos ir na nossa confiança, até que limite devemos dar, devemos ou não medir a nossa generosidade? Entre o que damos e o que guardamos não sempre a procura de um equilíbrio que permita uma saída airosa, caso nos tenhamos enganado? É assim a historia de cada um: aprender o que significa confiar e amar, descobrir como a generosidade e a entrega vai ultrapassando os limites que naturalmente colocamos, conhecer o outro com a certeza de que o amor dado não é desperdiçado.

Em caso de dúvida, mais felicidade em dar do que em guardar. Entregamo-nos na oferta que fazemos, vencemos o medo de vir a faltar, e ousamos uma radical confiança. Há momentos assim, de uma dádiva sem contagem, a uma insegurança confiante, a um voo de asas que não tínhamos. E isto tanto é válido na amizade como no amor.

Da viúva de Saint Exupery, o autor de "O Principezinho", Consuelo, guardei a oração que ele escreveu para ela dizer todas as noites.


"Senhor,
Não vos canseis muito. Não vale a pena. Fazei-me simplesmente como sou. Pareço vaidosa nas coisas pequenas mas sou humilde nas grandes. Pareço egoísta nas coisas pequenas, mas nas grandes sou capaz de dar tudo, até a vida. Pareço muitas vezes impura nas coisas pequenas, mas sou feliz na pureza.

Senhor,
Faze-me sempre semelhante àquela que o meu marido sabe ler em mim.
Senhor, salva o meu marido, pois ele ama-me verdadeiramente e eu ficaria muito órfã sem ele; mas fazei, Senhor, que ele morra antes de mim, porque ele tem aquele ar de muito sólido mas sente uma grande angústia quando não me ouve fazer barulho em casa.

Senhor,
Poupai-o principalmente à angústia. Fazei que eu faça sempre barulho em casa, ainda que de vez em quando tenha de partir alguma coisa. Ajudai-me a ser fiel e a não ver os que ele despreza ou que o detestam. Isso causa-lhe infelicidade, porque ele fez em mim a sua vida. Protegei, Senhor, a nossa casa.

Vossa Consuelo.

Amén".


Talvez eu vos pareça pela escrita uma pessoa forte, um rochedo inabalável. Nada de mais errado. Quantos não se vangloriam em afiar o dente, a ignorar-nos ou a cantar vitórias? Limito-me a chorar palavras, enquanto outros as vomitam.

Quis partilhar esta lição de amor convosco. Ela foi a sua rosa e a sua raposa.