O tempo não marca a vida. Mesmo quando não somos nada. Mesmo quando não queremos ser nada. Mesmo quando aspiramos a ser tudo. O tempo é um respeitável senhor que não devemos subestimar, mas não é ele que marca as contrariedades, que nos troca as voltas, que nos faz pensar nos porquês!
A vida sim! Comanda os nossos destinos, prega-nos partidas, sorri-nos quando menos pensamos, enxovalha-nos, protege-nos, obriga-nos a crescer, sempre mascarada, sempre metida nos sete véus ainda que não dance. E usurpa-nos, e embala-nos, e brinca com o mais sagrado que temos em nós! E acorrenta-nos, prega-nos sustos, faz-nos acordar de repente para um mundo maravilhoso! Renova-nos, delicia-nos, defronta-nos, faz-nos renascer.
Por isso o tempo não marca a vida, as nossas aventuras, o nosso aferrolhar ou a nossa dádiva, mas baliza fronteiras, estabelece limites, e é desta forma que é um senhor respeitável que não devemos subestimar. Ainda assim, somos carne mas também somos espírito. Somos frágeis mas também somos fortes. Somos humanos, mas também somos certeza. E se muitos nos queixamos da vida, também ela espera mais de nós. Se nós a aturamos, também ela nos atura! Espera que não sejamos tão mesquinhos e rotineiros, lutando por uma côdea de peixe como fazem as gaivotas. De não nos preocuparmos tanto que, quando damos por nós temos pensado mais do que vivido. E se a morte nos espreita já naquela esquina? Que vã glória, afinal. Que violenta esperança irrealizada. Que sentir fracassado. Que importa tudo o resto se a vida não tem limites, se o viver não acaba aqui? Mas então se não acaba aqui, o que fazer afinal? Muitos respiram um éter social e nem se apercebem disso. É como eu dizia no outro post: acostumamo-nos.
Mas porque viver é algo mais do que estar vivo, não importa tanto como é a vida depois da morte, mas o que fazemos durante ela...