Viver à altura do nosso tempo significa assumir a finitude provisória do humano.. Provisório, porque tudo o que sabemos, mesmo os conhecimentos que nos parecem mais seguros, não passa de simples hipóteses mais ou menos verosímeis. Tivemos de nos ir acomodando, pouco a pouco, e com tanta tecnologia, à incerteza. De repente, o futuro acabou por evaporar-se. Não sabemos o que nos espera e até agora todos os prognósticos se mostraram falsos. O futuro, de dado conhecido, transformou-se em incerteza total, sem podermos distinguir o que realmente nos vai acontecer, conscientes, isso sim, dos muitos perigos que nos ameaçam, mas também de que talvez contemos com os instrumentos adequados para evitá-los. O pessimismo parece-me tão pouco fundado como o optimismo.
O futuro, mesmo o mais próximo, apresenta-se com uma enorme interrogação. A incerteza sobre o nosso destino faz-nos viver no provisório. Temos os meios para destruir o mundo, logo destrui-lo-emos. A incógnita é só quando. Ora bem, porque sabemos que podemos destruir o mundo, é necessário que nos esforcemos por salvá-lo e que o consigamos. Se de alguma coisa temos a certeza, é da nossa finitude. Comprovamos diariamente as nossas limitações. Que vivamos condenados à morte não me angustia, até porque dá à vida uma enorme ânsia de vivê-la da melhor maneira possível, ou melhor dizendo, razoavelmente. O razoável consiste em fugir à guerra de tudo contra todos que deriva de satisfazer os nossos desejos sem nos importarmos com os meios para consegui-lo.
A vida só é razoável se vivida em comunidade com os outros, e um princípio fundamental de convivência é que do meu comportamento surja a convicção de que o bem do outro coincida com o meu. Que cada um procure o bem do outro e não o seu particular, e viveremos em paz e liberdade.
Cada um deve tirar o máximo partido daquilo que nos foi entregue, seja muito seja pouco - tudo o que temos, corpo, inteligência, carácter, educação, recebemo-lo -, sabendo que unidos ganhamos todos, enquanto que, se nos pusermos a afiar o dente uns contra os outros, todos perdemos. O mal da lei de Talião, olho por olho, é que no fim ficamos todos cegos. Nas lutas entre humanos não há perdedores nem ganhadores, porque no fim somos todos perdedores. Reconhecer isto é o principio da convivência de qualquer vida razoável, que só o é em paz e na liberdade. Infelizmente, pessoas há que nem a consciência têm que são mortais, da sua efémera vida, quanto mais dos seus actos.
Quando morrer, e se acreditando na sua existência, Deus vier ter comigo (?) e me perguntar o que fiz na vida, dir-lhe-ei que num mundo opaco e sacana tentei viver de um modo razoável, mesmo quando o fazia contra mim, julgando os outros pelo meu comportamento, e que, se tivesse a possibilidade de viver outra vez, alegando como desculpa ter nascido com tão grandes limitações, num mundo que mudava com tanta velocidade, não tinha sido fácil encontrar o caminho, mas que se não o tinha encontrado, pelo menos tinha passado a vida a procurá-lo.
Até já.