27.5.09

JÁ FIZESTE O TEU UPDATE?



E tu? Fala-me de ti. Mas que iria eu dizer? Podia dizer que estava no horário zero da vida, como dizem os professores, por opção ou serviço. Ou seria imposição da própria vida? Que aceito a humildade, prezo a simplicidade, o riso escancarado, a autenticidade de quem sabe ser sem que para isso se perfile num só horizonte, e que por isso mesmo perceba muito melhor a ignorância de quem se pensa inteligente sem saber sequer que foi escrutinado. O que me entristece. O domínio da língua nem sempre é o melhor, a cultura parece restringir-se às áreas aprendidas, e a formação humana espraiada nas relações interpessoais deixam-me atónito porque se pede mais a quem conhece mais, e todavia apenas parecem saber o que qualquer mediano português faz: a lei da esperteza a saca rolhas, o sorriso escancarado que mente uma natural falta de paciência, as conivências sem cuidar da isenção (quantos se sabem ver ao espelho sem se apoiarem nas opiniões de terceiros?) e o noblesse oblige das simpatias que nem sempre o são. Prefiro ser fiel a mim mesmo do que ao socialmente correcto. É por isso que costumo dizer que se fosse deputado, seria independente. Paga-se em silêncio e solidão o que outros perdem, sem saber, em falsos encostos e consciências pseudo-tranquilas.

Nem tudo nos pertence, nem tudo dominamos e aquilo que é felicidade para uns não o é para outros. Cada dia é a felicidade, ou não. Somos nós quem comanda o nosso mundo pessoal, e como as emoções provêm do pensamento, há que saber dominá-lo. Para o bem e para o mal. Ser feliz pode ser sentir-se simplesmente bem no aqui e agora. É o meu caso. De onde te vem tanta energia? Tanta alegria? És contagiante. Mas as pessoas não sabem que essa alegria me vem da consciência da serenidade da vida, do efémero da existência, e das próprias pessoas que estão comigo. Há muita gente que vive hipotecada no futuro do euromilhões ou de ressaltos inesperados que lhes tragam efeitos práticos similares aos jogos... se ganhassem. Mas é uma desinteligência. Como é uma desinteligência a arrogância, a soberba intelectual e o nariz emproado de quem pensa que por ser assim tem mais crédito que os outros. Mas não tem. Pelo menos como pessoa. Se não devemos ser ingénuos, também não devemos usurpar a nossa capacidade de doação, de entrega, de nos abstrairmos dos outros para que possamos continuar a ser nós mesmos, e, dessa forma, sermos felizes porque não entramos completamente no jogo. Mas darmo-nos é um acto só dos grandes. E do alto da sua redoma de vidro, talvez muitos sejam pequenos para isso.

Vivemos numa época cheia de paradoxos e contrastes. Basta mexer no rato do computador para irmos de Portugal a Nova Zelândia ou do Brasil à Coreia em questão de segundos. Porque será que aprendemos tão depressa mil e uma coisas sobre tecnologia e nos custa tanto progredir na maneira de nos relacionarmos uns com os outros? Como poderemos ter um mundo mais seguro, se não investirmos no diálogo, na compreensão, na paz e na justiça? Poderemos ser felizes enquanto a comunicação por meio de clics e de ratos com estranhos e desconhecidos substituir a abertura do coração aos amigos e à família? Talvez por isso eu pugne sempre tanto por uma web menos digitalizada e mais humana. Virtuais, mas nem tanto...

Se não formos capazes de sair de nós mesmos, das nossas certezas, de actualizar diariamente as nossas decisões, de não nos ficarmos só pelo que até ali tomávamos como mais certo e garantido - (infelizmente surpresas, quer nas situações, na vida em geral, quer em pessoas que julgávamos conhecer bem) -, e acalentar aspirações e os desejos mais nobres que brotam do interior de nós como pessoa, estaremos a criar uma sociedade de homens e mulheres que se procuram uns nos outros para fugirem da sua própria solidão, mas que não acertam no encontro consigo mesmos.


Até já.