19.6.09

DE QUEM SOMOS ESPELHOS?

Quantas vezes nos armamos no "quero, posso e mando" das nossas vidas? E das vidas dos outros! Porque cultivamos tão pouco a serenidade e a confiança perante ideias diferentes e propostas novas? O medo e uma sobrevalorizada autoconsideração distorcem a nossa percepção do mundo e até dos outros. Ficar na segurança da nossa verdade, é contrário ao sentido de auto-crítica de que tanto falo, do justo valor (porque por vezes julgamo-nos mais daquilo que somos, outras vezes julgamo-nos menos). E como ficamos na segurança da nossa verdade, endeusamo-nos. É por isso que, quando os nossos maravilhosos projectos falham, ou uma experiência dramática nos atinge, reagimos como arruaceiros ou entramos em depressão. Poucos têm a humildade de reconhecer o erro, ou simplesmente aceitar a natureza das coisas.Sem desistir de se tornar melhor a si e ao mundo.

A vida não tem seguros contra todos os riscos. Existe uma caução a pagar da nossa parte. Precisamos da grandeza de coração e de confiança para ir às outras margens, para ultrapassar muros e fronteiras. Incluindo os nossos. De amarmos a simplicidade em detrimento da sobranceria e arrogância intelectual. O julgar que tudo podemos e somos. É por isso que precisamos da grandeza de coração puro, da humildade em nos calarmos quando for o caso reconhecendo que não somos detentores da verdade absoluta, mas também da dignidade em nos opormos pela verticalidade dos valores. Que são coisas diferentes.

Considero também aqui, o aspecto estrutural de cada pessoa. Umas mais macambúzias, outras mais "mexilhonas", mais deprimidas, extrovertidas, contidas, irritáveis e irritantes, descontentes com tudo, rezingonas, calmas, dóceis, razoáveis, assertivos, modestos, arrogantes, vaidosos... e toda uma mescla sempre indefinida no marvavilhoso mundo que é o Homem e a mente. Pessoalmente, revejo-me nos risos abertos, espontâneos, naturais, falador e sorridente, embora igualmente contemplativo, como quem assiste com a mesma alegria, pulando e cantando num concerto de música pop/rock ou assistindo a uma peça dramática de teatro, a um concerto de violino e oboé ou simplesmente a olhar o mar. Mas possa embora a personalidade influenciar os nossos estados de espírito, não deve, não pode, sob pena de falta de higiene mental e suas eventuais consequências, encapotar os juizos que fazemos dos outros e de nós mesmos, embaciar a sensatez que se requer nas mais simples atitudes do quotidiano, ou falsear as nossas "certezas", qual esquizofrénico que apenas pensa reconhecer-se a si mesmo.

De qualquer forma, independentemente da predisposição estrutural da personalidade de cada um, se não tivermos essa humildade da revisão dos nossos actos, de nos olharmos em espelhos que não distorçam a realidade e só digam como na história da Branca de Neve que somos os mais belos (neste caso, seria os melhores), não só nos afundamos em distimias ou mesmo depressões graves, como andamos desfasados de uma vida que não é a nossa, nem de ninguém, crentes de que as nossas certezas são infalíveis e de que não é o mundo que gira à nossa volta mas sim nós à volta dele.

Estamos no Verão. Fruir, sair, fazer férias também em fins de semana, fazer férias dentro de nós (e sim, continuo receptivo a propostas, conforme perguntado num comentário no post anterior) ou usar uma tarde para saborear um gelado, ver o mar, rir desbocadamente de inocentes anedotas, descobrir locais, exposições itinerantes, feiras medievais, e simplesmente deixar de pensar é, não apenas salutar, como sabermos que as férias não devem ser um interstício nas vida uma vez por ano, em que descarregamos tudo de um ano inteiro que não se compadece só destes tempos estivais, e por isso, dosear as férias, como quem faz um descanso, vai ao cinema, convive com amigos, não pensa muito nas coisas, lê um livro descontraidamente, cruza as pernas numa esplanada, ou simplesmente faz novas amizades, é muito mais importante do que saber onde se vão gastar os dias oficiais de férias, sendo que o gastar deve ser sinónimo de ganhar e não de perder, no sentido do Principezinho quando diz "foi o tempo que perdeste com a rosa que tornou a rosa tão importante para ti".

Esse tempo, para nós e para os outros, numa vida inter-relacional, não pode ser apenas o tempo de verão, mas um descanso continuado e faseado dentro das possibilidades que possamos ir encontrando, ou faremos parte das estatísticas dos enfartes de miocárdio, de stresse emocional, de AVC's ou de uma vida que julgamos boa e descomplexada, repletos de nós, cheios de nós, quando afinal o que temos são falsas certezas, e as opiniões extremam-se, as atitudes erram, e julgamos estar sempre no caminho certo.

Obrigado por todos os comentários do post anterior. Já lá respondi - como agora faço quando ao escrever novo post -, mas de alguma forma enfatizei de novo aqui o sentido das férias dentro de nós, de que falava no post anterior.
Tá calor...

Até já :)