10.10.09

...SE OUTROS CAMINHOS PERCORRERES...


Manhã silente. Paz. Depois a vida, o rumor, o amor. Entardecer suave. Escuro. Noite amiga, acolhedora. Cheiro a paz e a ciprestes. Plátanos, álamos, cedros, heras, juncos, olmos, palmas, lírios, pinheiros bravos. Cheiro a terra molhada pela chuva, alvorecer, calor de alcatrão em estradas desertas, estremeções de alma.

Gosto de saborear a brisa sem olhar as horas. De dormir dias a fio no canto das fadas, e acordar num mundo que só é feio se o fizer ainda mais. Não há nada melhor que um encontro com o mar, com um café numa esplanada calma. Não há nada melhor que a simplicidade de se ser simples, justo embora nas medidas exactas. E ficar feliz como uma criança a quem qualquer brinquedo é a melhor coisa do mundo. Feliz pelo deslizar dos carros num quotidiano turvo, onde é sempre necessário vermos com outros olhos a poluição. A poluição humana. Se dissermos mal da chuva, que medo escondemos? Se dissermos bem do Sol, que vazio actualizamos? Se condenarmos o mundo, que mundo temos nós? E o mundo interior feito afinal de quê? De cópias insanas por efeito dominó de uma vida cansativa? É sempre a perspectiva que conta e não tanto aquilo que realmente se vê. "O essencial é invisível aos olhos". "Foi o tempo que perdeste com a rosa que tornou a rosa tão importante para ti". Qual o nosso tempo? Cronológico e interior? Já respiraste o cheiro dos cedros mesmo sem os veres? Ou dos nenúfares e plátanos de uma foto ou porque os teus olhos os presenciam?

Que presenciam teus olhos? O bem que há ou o mal que existe? Ambos existirão sempre, mas da resposta e do amor que tiveres, farás prevalecer um sobre o outro. Queixas-te da vida mas também ela se queixa de ti. Que fizeste já hoje por ela?

Eu fiz pouco. Limitei-me ao cheiro dos olmos, cedros, heras, juncos. Ao descafeinado numa chávena, e à preguiça de estar sentado a sentir o entardecer. O amanhecer. Quando tudo dorme. Só o espírito é que não. Mas senti a vida. Tal como quando no frenesim de uma música eléctrica se dança espavoridamente em constelações de ritmo e pulsação, pujança viva de estados de alma, de entrega e de viver. Só temos uma vida. Pensar de mais é diminuir a tranquilidade e fenecer o espírito. Sem paz interior, seremos sempre almas ansiosas que por qualquer gota de água ou temperamento, amaldiçoa o outro e o mundo.

Manhã silente. Respira fundo a Humanidade. O teu coração será verdadeiramente rubro e o teu espírito beberá a Paz. Se outros caminhos percorreres...