Há 363 anos, D. João IV proclamava Nossa Senhora da Conceição - que é o feriado que hoje gozamos - padroeira de Portugal. A Universidade de Coimbra associou-se a essa proclamação, pelo que a partir de então ninguém podia obter um grau académico sem antes prestar juramento de que Nossa senhora foi concebida sem pecado original. Só quando o Papa Pio IX o tornou como dogma em 1854, é que o juramento deixou de ser feito. Foi a partir daí que começou o culto mariano em Braga, no Santuário do Sameiro, onde ainda hoje lá se encontra entronizada a imagem da Senhora da Conceição, mandada vir de Roma onde foi benzida pelo Papa. Mas não é a história que me importa, apesar da curiosidade. Também no momento da coroação os reis deixaram de colocar a coroa na cabeça, porque Ela era Rainha de Portugal, outro pormenor muito interessante.
Mas não é a história que me importa contar, apesar da curiosidade. O dia 8 de Dezembro (dia do nascimento de Jim Morrison de quem falarei noutro post) era o Dia da Mãe que, como sabemos, hoje se comemora no primeiro domingo do mês de Maio, por ser o mês das flores, do coração, embora também de Maria. Esqueçam as religiões e as crenças. Estou no plano dos factos. Nós, cá em casa, passámos a comemorar o Dia da Mãe duas vezes ao ano, com muito maior ênfase no dia de hoje. Infelizmente, aquela senhora de sorriso bonito e suave, doce e terno, de uma bonomia como quem tem as mãos abertas e uma simplicidade e humildade desconcertantes, ficou em meus braços há cerca de quatro anos, na razão inversa da Pietá de Miguel Ângelo, em que é a Mãe que tem o Filho no regaço. Mas não é das coisas que ficam gravadas a sangue que vos quero falar (porque o amor sendo mais forte do que a morte não deixa de ser suave, firme mas suave e simplesmente não se conseguem dizer), mas de que antes se celebrava neste dia, o Dia da Mãe. E que também neste dia se iniciava como que oficialmente a época natalícia, com a feitura do Presépio, a árvore de Natal, o musgo, o encanto e a magia da época em que já estamos. E tudo era desfeito no dia de Reis, a 6 de Janeiro. Nós continuamos assim, embora com algumas variações nos dias, mas nunca antecipando muito para antes do dia 8. E por isso como que inauguro oficialmente o tom festivo deste blogue, porque é o Menino Jesus que comemoramos, e não o Pai Natal ou de como variar a rotina por esta altura. Dia da Mãe, ainda para muitos hoje, e início do presépio e enfeites da casa.
Há mães afectivas que são verdadeiramente mães, e mães biológicas que de facto não o são. Mas esta história que vos conto a seguir, serve para mostrar o amor maternal independentemente dos laços de sangue, porque os laços que unem a verdadeira família são os da alegria, do respeito, do amor e da amizade dentro da vida de cada outro. É uma história bonita para exemplificar o amor de Mãe. É a história de um homem que morre mas não vai parar ao céu porque S. Pedro lhe negou a entrada. Uns dias depois, S. Pedro vê o homem no Céu, e furibundo foi ter com Deus perguntando como estava o Homem ali, sentindo-se desautorizado. E Deus respondeu-lhe: "Foi Nossa senhora que o deixou entrar por um alçapão". "Então e Tu, permististe, Senhor?", ao que Deus responde: "Sabes, Pedro, não se pode negar o pedido de uma Mãe".
Não sei se Nossa Senhora que hoje torna o dia em feriado, é aquela Nossa Senhora revelada e de quem até os reis se deixaram de coroar porque Rainha de Portugal, nem sei se Nosso senhor, o Menino Deus que comemoramos nesta época, me ouve no silêncio que nos dá supostos argumentos para O negar, mas permito-me fazer esta oração, como o Amor que em vez de intelectualizar, simplesmente acredita sem necessitar de provas. De outra forma, que mérito haveria em acreditar?
Ajuda-nos, Mãe, a saber dizer como tu "Faça-se", a ter a Tua disponibilidade e discrição, a ter essa entrega sem porquês, a não pensarmos arrogantemente que, sendo nós a criatura, julgamos ser o Criador, a essa simplicidade enternecida e a essa humildade sem capas. Que o Teu olhar de bondade e Luz possa ser o nosso conforto ao ver aquilo que os outros não conseguem ou que a nossa aparência esconde, e já agora, Senhora, que a minha outra Mãe que me deste, e cujo corpo está numa campa mas não ela, assim acredito, te esteja a louvar sorridente e serena, perfumando com o seu amor o coração dos filhos, desajeitados e desacreditados. Tal como no Nascimento do Deus-Menino. Aí. Onde reside a fé.