10.3.10

BULLYING (OU: DOS VALORES)


Continuem a aderir ao post manuscrito que se encontra aqui ao lado e que fui buscar ao Luís Ferreira por o achar de uma enorme partilha pessoal neste mundo frio da web - como sempre digo-. É simples: basta escrever uma nota em papel, um bilhete, colocá-lo no blog e avisar aí no link da barra lateral direita para eu poder incluir esse mesmo bilhete e, dessa forma, levá-lo a partilhar com mais gente. E podem repetir. O link está aí ao lado onde também colocarei os voosos bilhetes mal veja os avisos. Também tenho andado ligeiramente arredado da blogosfera mas sempre atento ao que me escrevem. Obrigado, como sempre, pelos vossos contributos. Mas também é preciso educar o nariz ao cheiro da chuva e da lama, ao som do virar de uma página, ao cheiro de um café, ao silêncio que fortifica e traz novas perspectivas, ao sairmos de nós para nos reequacionarmos. Importante mesmo é a relação interpessoal, e se ela se transforma numa relação quase só cibernética, então temos o dever de tentar perceber o que está mal, mesmo que alheio à nossa vontade.

E falou-se muito do bullying. Infelizmente pelo Leandro! Sem me pronunciar sobre uma escola que está nitidamente demitida das suas funções só porque não são casos novos (mas mesmo por isso) e porque diz nada ser com ela ou por ter falta de pessoal auxiliar (usando esse argumento contra um crime que lhe devia ser imputado por negligência) é fundamental deixarmos de olhar para os comportamentos juvenis considerando-os apenas reacções de adolescentes ou modos de expressão juvenil e reagir com firmeza e decisão. A autoridade que se retirou aos professores e educadores em matéria de punição em nome do "pedagogicamente incorrecto", traz consequências nefastas no respeito pela autoridade e aceitação da correcção. Quando são os próprios pais a não darem o exemplo de respeito nas mais variadas circunstâncias, serão os filhos a auto-educarem-se nesta matéria.

Sabemos que na adolescência existe um violento confronto do jovem consigo mesmo, não apenas na apreensão de si como pessoa, como também dos outros e do mundo em geral, sem falar nessa força que é o sexo e também ele uma descoberta e uma força. Mas é precisamenmte por isso que o adolescente deve ser ajudado a compreender o seu corpo e a sua mente, a dominar os instintos, a investir nos afectos, a respeitar-se a si e aos outros. A máxima de "não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti" tem aqui uma ajuda prática no processo humano de educação e crescimento. É certo que existem variáveis, como o meio social, os desiquilibrios sociais, as familias desestruturadas, mas a própria violência fisica e psicológica nao é nova. Quando andava no nono ano, lembro-me perfeitamente de assistir a esse tipo de situações. Era a invasão dos bárbaros, alguns vindos de outras escolas.  Eu era delegado de turma e tinha sido sub-delegado no ano anterior, pelo que estava atento a problemas pessoais entre colegas meus. Nesse ano tive de ir defender um deles em conselho de turma com a representação de dois pais, mas a indiciplina nao era só daquele ano lectivo ou civil. Existe hoje como existia ontem. Se mais carregada hoje? Talvez. Se maiores forem as convulsões sociais, maiores vão ser os estragos, ou os danos colaterais se quiserem usar eufemismos. Mas na base de tudo está sempre o mesmo: a de sermos chamados a dar um significado e a intervir com bom-senso, repropondo a interligação entre o comportamento e os seus afectos, entre as acções eo seus efeitos, entre os direitos e os deveres, entre as regras e os limites.

Faríamos bem em dar mais atenção aos nossos gestos e palavras porque a violência dos adolescentes é uma extensão do comportamentos dos adultos. Quer o estruturante familiar, quer o do colectivo. Quem disse que o exemplo já não colhe, ou que a educação não vai lá pela transmissão de valores? Hoje dá-se tudo, mas não se ensina nada. Tem-se acesso a tudo mas não se tem nada. Oxalá nao haja outros Leandros sem cacacidade de resposta que não a fuga como solução única para um mal a ser combatido desde cedo. Sempre os valores na formação humana. E os valores trazem liberdade, ao contrário do que se pensa. Poderia traçar um breve paralelismo entre sexo e amor: a um jovem hoje só falta dizer "amar-te-ei enquanto tiver uma vida sexual que me satisfaça". Se isso é amor, então esqueçam o amor. E se dar dois carolos ao outros nao deve ser reputado como bullying desde que isolado, então a prática sistemática dessas coacções fisicas e psicológicas devem ser avaliadas e estudadas sobretudo na dimensão social do fenómeno, familiar e social, pelo que serão sempre os valores, no matter what, que sustentam uma sociedade e, com ela, uma civilização.