10.3.11

NESSE SILÊNCIO SE FAZ VIDA

Deponho silente as armas. Faz-se sublime em mim.

Acordo na dimensão outra que as palavras estão londe de contar.
Pendo a cabeça. Elevo as amãos. Soergo a alma.
Mais um suspiro de infinito.

Abarco-me intermitente.
No amanhecer do mundo, o ocaso de um ser.
O universo redime os buracos negros que o Sol enfastiado vomitou.
A Lua empalideceu no teu murmúrio e os caminhos são já novos.

Vestes a dor colada há muito. E despes as roupagens principescas.
Escarnecerão de ti os plebeus no olhar desencantado do teu fulgor.
Amavam-te a divindade. E destes-lhes o humano.

Depuseste-te no caminho.
Os cânticos que te ecoam louvam o ser.
E o teu espírito eleva-se em mãos abertas.

Há um silêncio de paz no murmúrio da manhã. E tanto que fica em vida por fazer.
Desce então desse êxtase sofrido.
Funde na alma as madrugadas por dizer e os dias que são teus.

Os caminhos não tratarão os teus pés. O pensamento ensandece.
Nos arco-íris enontrarás sempre uma janela para a dimensão de outrora.
Sorris triste amando o teu calvário, feito de mármore, fulgor e solidão.

E voltas. Num silêncio que mais ninguém ouve.
Num olhar que querem outro. Nas roupagens principescas.
As mãos abrem-se ao contrário e lentamente se faz dia.

Vem aí a multidão. E aguarda a divindade.
Nos chinelos de sisal, só eles verão os brilhantes que os encanta.
Depõe agora o teu adagio.
E nesse longinquo horizonte, faz em ti a tua vida.