ah este grito de alma chovido e molhado
este mar eterno de onírica saudade
em trovoadas constantes e escuras
atravessadas pelo relâmpago veloz
brotam da terra as raízes que te crescem.
na solidão de ontem, o martírio
e um cheiro balsâmico e bucólico
preenche-te o nariz inodoro
do leito dos rios se transformam os peixes
em caudais imensos de outros mares
e na imensidão da espuma e do medo
jazes ali nas correntes vocíferas
que te consomem a luz
mas eis que de repente
te constróis sem pensamentos
pois que do viver a eles não lhes deves
legitimados que estavam
na tua antiga praia
cuja autoridade agora destituis
com um mar calmo e tranquilo,
sagaz e predisposto, sabendo
que do mundo ninguém está só
nesta rede de fugas e de encontros
onde mesmo o nada assegura alguma coisa
das algas da emoção,
do plâncton da esperança
e dos limos da descrença que te enredam
encontrarás conchas e areias
que te transportarão de súbito
numa maré cheia de mistérios ao
podium da felicidade e do amor
que se encontra a cada instante
em que na vida te permites ser
...Na segurança, porém, de que
cada dia tudo recomeça de novo,
perdendo-se sonhos,
ganhando-se esperanças e vontades
entre trovões e relâmpagos
cuja luz te cabe a ti abençoar