
Precisamos de acreditar na vida e enfunar as velas da fé. De velejar em águas profundas que nos tragam à superfície a serenidade dos dias, mas também a paixão de ser! De conquistar pequenos grandes feitos, e estar sempre perto de dois ou três amigos, não são precisos muitos mas os essenciais, porque não podemos ser sempre os juízes dos nossos próprios actos. Também aqui precisamos do olhar sincero e corrector mas amigo, de alguém que esteja livre das motivações profundas com que conduzimos a vida.
Só descendo à própria génese humana conseguiremos a apreciação geral do que sentimos, e a partilha interior dos nossos actos, e dessa forma perceber como vai a nossa crueldade e a nossa justiça, o nosso desamor e a nossa entrega, porque ninguém é feliz todos os dias e muito menos se não tiver e souber ser alma... É preciso corrigir o nosso eu. É necessário viver com paixão, sentindo a profundidade do abismo e o terror da morte, a força do amor e o estremeção da alegria, sob pena de chegarmos ao fim sem qualificação de termos tido, sequer, uma vida. A ética moral, a elegância do comportamento, a honradez e a gentileza, o próprio sentido de amizade, tudo se emulsiona pela paixão com que vivamos e não nas procuras insanas onde nada existe!
Damo-nos as mãos às escondidas, entre torpedos de lágrimas e afagos de palavras, num misto de solidariedade, vergonha e tentativa de resolução, e também assim nos dignificamos em gestos tácitos de descoberta da mesma condição...