14.2.20

AMAR-(SE)

Saber precisar daquele que amamos, pode ser uma prova de amor, mas a primeira prova de amor é sempre connosco mesmos, e sempre que não nos amamos o suficiente (não como quem se idolatra mas como quem se dignifica), ficamos reféns de um príncipe ou princesa que pode não apenas não existir, como nem sequer ser melhor do que nós! E da nossa necessidade de amor e protecção, nascem valorações exageradas ao outro, muitas vezes diminuindo-nos, quando, afinal, somos grandes, e aumentando a importância que o outro pode não ter!

Somos seres relacionais e só nos realizamos na partilha e na comunhão com o Outro. É o Amor oblativo e universal, tal como o romântico, que dá razão à existência...
Estarmos nos braços e no coração do outro, vem das necessidades mais profundas de vínculo e protecção, mas facilmente nos desvalorizamos sobrevalorizando o outro, que tanta vez é mais um apego do que uma identificação. E neste caminhar, precisamos também de aprender que, no fundo, somos seres solitários, precisando do outro, sim, mas não devendo emprestar ao tempo uma espera por alguém que verdadeiramente nos ame, se nós não formos os primeiros a conseguir essa própria construção...
Seguir o Amor é lindo e necessário; mas só se nos soubermos amar também a nós, porque muitos amores são apenas um afago do ego...
E se tivermos a sorte de sobrevir esse Alguém, de nunca hipotecarmos a felicidade numa imagem construída do que gostaríamos que fosse e não do que verdadeiramente possa ser, dando a esse Amor o que merece e partilha, mas sem nunca endeusarmos o objecto dessa entrega, sob pena de mendigarmos algo cuja riqueza, afinal, está em nós...
É que, se não tivermos para nós, também não poderemos verdadeiramente dar aos outros. E então sim, o Amor torna-se dádiva e entrega, porque nenhum vale mais do que o outro: é que, só tendo para nós , podemos igualmente dar...
Coisa diferente é o receio de amar: podendo estar ligado a experiências negativas ou ao medo de vir a ser traído ou abandonado, deve, porém, ser ultrapassado, porque amar implica sempre algum sofrimento e tensão, mas também o seu de reverso de liberdade e realização...