26.6.20

NÃO HÁ SUPER HOMENS

Escreve a Agustina Bessa Luís na biografia de Santo António, um livro riquíssimo na sensibilidade da escrita, que "há homens que recebem o dom do amor porque há neles a coragem da sua humanidade". Este é o problema de muita gente, por vezes mais dos homens, ou seja, o de assumir e viver as suas próprias emoções, ao invés de as negar, reprimir ou sublimar.


A ideia do super homem é uma ideia infantil, mas é nesse padrão que nos movimentamos, escondendo a emoção e primaziando os quartos interiores vazios e desesperados, com papel de parede brilhante e colorido onde seguramente só alguém muito feliz pode ali viver...


Resgatar o que verdadeiramente somos, é um processo diário de construção, habituados que estamos às defesas e à ilusão da invencibilidade. Chorar, pedir ajuda, querer colo ou manifestar impotência face a tanto, não é fraqueza: é, pelo contrário, inteligente, não apenas porque abrimos comportas de oxigénio em pulmões sobrecarregados de tristeza, ansiedade e sofrimento, mas porque também permitimos que outros saibam que, afinal, não estão sozinhos nessa aparente fraqueza, e que, pedagogicamente, pela palavra e pelo exemplo, pelo sorriso e pelo olhar, pela lágrima e noção da finitude, podemos ser nós...