Saber precisar daquele que amamos, pode ser uma prova de amor, mas a primeira prova de amor, é sempre connosco mesmos, e sempre que não nos amamos o suficiente (não como quem se idolatra, mas como quem se dignifica), ficamos reféns de um príncipe ou princesa que pode, não apenas não existir, como nem sequer ser melhor do que nós! E da nossa necessidade de amor e protecção, nascem valorações exageradas ao outro, muitas vezes diminuindo-nos, quando, afinal, somos grandes, e aumentando a importância que o outro pode não ter!
Somos seres relacionais e só nos realizamos na partilha e na comunhão com o Outro. Mas o primeiro respeito terá de ser sempre connosco mesmos.
Estarmos nos braços e no coração do outro, vem das necessidades mais profundas de vínculo e protecção, mas facilmente nos desvalorizamos sobrevalorizando o outro, que tanta vez é mais apego ou carência, do que propriamente amor.
E neste caminhar, precisamos também de aprender que, no fundo, somos seres solitários, precisando do Outro, sim, mas não devendo emprestar ao tempo uma espera por alguém que verdadeiramente nos ame, se nós não formos os primeiros a conseguir essa própria construção...
Precisamos de amar e de ser amados, mas nunca de mendigar amor ou de endeusarmos o Outro, já que incorremos numa imagem construída do que gostaríamos que fosse e não do que verdadeiramente possa ser, outorgando a esse amor uma riqueza que, se calhar, está só em nós. E é por isso que, quando ambos se merecem, esse amor deve ser vivido de forma incondicional e para sempre...
Coisa diferente é o receio de amar: podendo estar ligado a experiências negativas ou ao medo de vir a ser traído ou abandonado, deve, porém, ser ultrapassado, porque amar implica sempre algum sofrimento e tensão, mas também o seu de reverso de liberdade e realização...
Não devemos ter medo de amar, ou de achar que o amor é para os fracos. Pelo contrário. O Amor envolve circuitos cerebrais responsáveis pelo pensamento racional, por isso, falar do Amor, não apenas é nobre, como inteligente.
Precisamos de coragem para amar, e de amor suficiente por nós mesmos para termos a coragem de não amar qualquer um... E quando o fizermos, não termos medo de sofrer, porque, no fim, saberemos sempre que tentámos, que estivemos receptivos, que não fomos orgulhosos ou calculistas, e que foi sempre o amor, ou, pelo menos, o que dependeu de nós, que deu razão à existência.
