22.5.21

DIA DO ABRAÇO

 


No dia do abraço que hoje, sábado, se comemora, e porque o Homem é um ser relacional, é importante reflectir no quão curativo e terapêutico um simples abraço é, desbloqueador e prazeiroso, porque precisamos do toque, é intrínseco à natureza humana, e ninguém se desenvolve saudavelmente se não tiver esta latitude do contacto.

Muitas pessoas negam-se às mais elementares manifestações de carinho e afecto, em nome de uma veleidade pessoal de suposta autosuficiência, o que constitui uma mentira existencial numa sociedade já por natureza egocêntrica, fechada em si mesma, e sendo a sociedade não mais do que o somatório dos indivíduos, cabe a cada um de nós fazer a nossa parte, porque também as neuroses colectivas e os desajustes emocionais, começam igualmente pela negação de necessidades básicas, como o toque, o sorriso, a capacidade de nos darmos como fonte de higiene mental.

Um abraço cura. Um beijo cura. Um sorriso cura. Revigora a energia psíquica, humaniza, pacifica! Mas muitos persistem na ostentação obtusa do "self made man" levando ao exagero a distância interior, e julgando-nos metidos numa couraça vistosa, sufocamos a nidificação da própria alma! No reverso de uma moeda guerreira, opulenta e forte, está sempre a fragilidade de um amor autonegado.
Muitas sessões psico terapêuticas poderiam ter sido desnecessárias, se simplesmente consciencializássemos que, abraçar, desabafar, partilhar, rir, dar, chorar, saber ser louco, são caraterísticas humanas naturais que sustentam o nosso edifício psicológico e mental.
Um "estou aqui" é bálsamo, ansiolítico e antidepressivo na prossecução da caminhada, porque importante não é a rua habitual, mas os becos que nela desembocam.
E há muitos pedidos mudos e envergonhados, numa espécie de esquizofrenia afectiva, porque quero, porque preciso, mas porque depois penso que isso não é para mim, sou superior e não preciso de suportes. Não pode haver maior engano.
O abraço não é apenas agarrar um corpo com tempo, com os dois braços numa linguagem sem palavras: o abraço é também um toque de alma, convocando emoções escondidas que obrigam a uma reflexão pessoal de descoberta.
A auto análise e a redescoberta de nós mesmos nas potencialidades e limitações, estará sempre incompleta se não se fizer também no processo relacional, mesmo naquele que possa incomodar, porque é nesse incómodo que o Outro nos provoca sem saber, que somos interpelados a descobrir e interpretar o seu significado, tal como é na sensação de bem estar e identificação interior, que damos pulos e avanços na assumpção de que, afinal, há tantos como nós, em caos e dor, mas também na capacidade directa ou tácita de que juntos somos mais fortes em sensações profundas de uma humanidade que se constrói e partilha e aceita assim, devedora da afectividade e da entrega, e credora de tanta beleza no deserto da alma que julgávamos ser o fim...
Precisamos de ir além de nós...
É que só temos uma vida, e não é a duração, por natureza curta, que a qualifica, mas sim a qualidade com que a vivemos nos abraços (i)materiais que (nos) permitimos dar...