1.5.21

SEM COVID


 Tenho lido e ouvido as melhores intenções de que tudo vai mudar pós COVID 19, mas não partilho de quase nenhuma dessas opiniões dos mais diversos quadrantes, de cientistas a escritores, filósofos ou gestores. Até porque o Covid, tornou-se endémico, como é a gripe, por exemplo... É uma questão de tempo para a eficácia plena da vacinação a nível mundial, tal como a gripe que, todos os anos muda de estirpe.

Claro que todas as crises são sempre uma oportunidade para algo, mais que não seja, para pararmos um pouco e reflectir nos porquês, nas atitudes comportamentais, o que devemos mudar, e por aí fora, mas a natureza humana está lá, centrada no umbigo e na individualidade (o sentido comunitário sem necessitar de crises, praticamente só acontece em culturas fora do ocidente), pelo que, uma vez restabelecida a normalidade (que não é a sua erradicação, mas o hábito à convivência como refiro, usando a gripe como exemplo), os interesses pessoais e corporativos sobrepor-se-ão com a mesma ferocidade com que nos indiferenciavamos antes do Covid ou poluíamos o planeta.
As correntes de solidariedade que acontecem em tempos de crise, independentemente da génese dessa crise, também se sustentam no facto de, vendo tanto sofrimento ao nosso redor, suportarmos melhor o nosso, mas debelados os problemas, o homem continua orgulhosamente metido em si mesmo, pedantemente triunfante, mesmo com miséria ao redor, e sem quaisquer sinais de empatia colectiva de comunidade.
Sim, vai ficar tudo como dantes e, é por isso, que, de tudo o que aprendemos, há sempre muita coisa errada, pelo que precisamos de desaprendê-las logo a um nível de uma consciência individual profunda, para, erradicando ou corrigindo crenças, preconceitos e hábitos disruptivos, podermos, então, quando chegam crises nacionais, internacionais ou mundiais, estarmos verdadeiramente preparados para aprendermos com elas sem voltar atrás no colectivo, que apenas a partir dessa tomada de consciência pessoal, se poderá dar, atingindo as sociedades.
É por isso que o sentido crítico, a começar sobre nós mesmos, aliado à humildade da desomnipotência e à coerência, pode fazer a mudança, como um contágio de pessoa para pessoa, aberto e saudável, e que só assim poderá mudar o mundo...
Se antes do covid já muitos eram herméticos e pouco dados a manifestações de carinho e afecto, de cumprimento, de abraço, com distância interior porque sim, o Covid piorou a situação, mas também funciona como um alerta da necessidade desses mesmos afectos, do beijo, do toque, do abraço, que nos cabe dar e receber como seres relacionais que somos, e não metidos em casulos aproveitando a pandemia para cavar fossos já existentes de distanciamento fraternalmente humano.
Precisamos de nos dar, para sermos humanos em plenitude, sem sucumbirmos ao medo ou à habituação da distância interior.
... Caso contrário, o bicho somos nós...