20.8.22

ENVIESAMENTO DO EU

 


Vidiadhar Surajprasad Naipaul nasceu a 17 de agosto de 1932, foi Prémio Nobel da Literatura em 2001, cito-o:

"As únicas mentiras pela quais somos realmente punidos, são aquelas que contamos a nós próprios!"

Esta citação dele, simultaneamente tão simples e profunda, resume o que muitos nem se apercebem.

Por exemplo, fazermos negações, tornando a realidade numa mentira por nos ser inconveniente, ou simplesmente não sermos capazes de a entender, (por falta de autocrítica e/ou capacidade empática), ou idealizações que fazemos do Outro, tornando-o naquilo que pensamos ser, sem tentar perceber se o é verdadeiramente.

Tudo isto não são mentiras que contamos aos outros, mesmo quando também conscientes de negarmos situações a quem nos interpela sobre algo e continuamos a negar, mas sobretudo mentiras que contamos a nós.

Será preferível tapar a ferida a vida toda com fugas de si, ou fazer a cirurgia da higiene mental, que dispensa tratamentos, e nos coloca na verdade da autocrítica (se feita conscientemente, e não apenas no que nos interessa, já que equivaleria a outra mentira que diríamos a nós mesmos), e daí, reconhecermos o Outro como na realidade é, e não como o idealizamos ou gostariamos que fosse!?

aceitarmos a realidade das nossas limitações e erros não as atribuindo a bodes expiatórios;

agir em vez de lamentar, como quem arranja uma desculpa para a inacção ou simplesmente continuarmos nas fugas em frente;

reconhecermos a verdade no Outro mas primeiro em nós, sob pena de a enviesarmos e permanecermos na infantil ideia de querermos agradar a todos, (mas quem não quer?), provocando injustiças por omissão, tomando partido por uma coisa e seu contrário, na ânsia de aprovação alheia. Essa é a maior falácia da própria mentira.

Só desconstruindo diariamente o nosso self, como quem faz um update de nós mesmos, teremos a capacidade de sermos verdadeiramente nós.

Caso contrário, seremos os bonzinhos sociais do politicamente correcto, supostamente amados por todos - já que preferem enganar-se a si mesmos, ainda que julgando que não -, excepto se for intencionalmente maldoso.

Logo, só a simultânea (des)construção diária de nós mesmos, nos permite aceitar com realismo, mas também com muita serenidade (a fim de mantermos a estrutura mental intacta, no caso de descobrirmos zonas muito negras que não sabíamos ou não queríamos reconhecer ter) e, dessa forma, podermos actualizar as nossas decisões e julgamentos, numa vida livre (ser livre é ser responsável, e a maior responsabilidade é a verdade para connosco mesmos), afastados das mentiras existenciais, onde, afinal, os enganados somos nós...