21.3.24

20 março: dia internacional da felicidade


A felicidade, cujo dia internacional hoje se comemora, juntamente com o início da primavera, é
aquilo que cada um concecione ser, mas há alguns conceitos que precisam de ser desmontados, como quem atribui à riqueza a sua fonte.
Ter dinheiro, proporciona bem estar, conforto, prazer pessoal, imensa alegria, potencia a própria felicidade, mas não é a felicidade em si.
Senão vejamos: uma pessoa deixada numa ilha paradisíaca com tudo ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial se não houvesse a partilha, o sentimento de que é desejada, amada, apreciada, de que ela mesma pode contribuir para a felicidade alheia, pelo que é, e não pelo que tem.
Uma pessoa, que por. ex. tenha um índice de felicidade de 45, e que por força de algum euromilhões passe para 90, ao fim de algum tempo, tende a voltar ao 45.
Sim, houve um pico no bem estar, no poder fazer tudo o que o dinheiro pode comprar, mas isso passa, porque a felicidade é insuscetível de avaliação pecuniária.
O dinheiro não compra o Amor, os Amigos de Verdade, a Saúde, os valores universais dos imperativos éticos. É, aliás, por isso, que também o dinheiro não evita a injustiça, a incompreensão, o desamor, a destruturação como pessoa.
O dinheiro é uma necessidade inequívoca que contribui para nos sentirmos bem, sem apertos financeiros, o que nos alivia imenso e provoca um estado de desafogo e alegria que confundimos com sermos felizes.
Lembro-me logo do aforismo "Cuidado com o que pedes"!
Porque o dinheiro, potencia o sentimento de felicidade, mas não pode substituí-la. É como uma emoção, transitória, passageira, mas não como um sentimento!
Porque a Felicidade somos nós que a fazemos pela atitude que tomamos (como estar agradecido pelo que se tem, sem se querer sempre mais e mais, qual criança que vai passando de brinquedo em brinquedo, porque cada um dos outros já não a satisfaz).
É sentir que caminham connosco, que somos compreendidos e desejados, que nos tornamos solidários com pessoas e causas.
É afagar um gato, receber as lambidelas de um cão que nos ama e, é feliz só por isso;
é sermos livres para não nos deixarmos levar pela maledicência e filtros sociais ou jogos escondidos;
é não ter medo de não ter esses mesmos filtros sociais, precisamente porque somos interiormente livres (o que requer coragem e liberdade...).
É sermos simples e genuínos, aceitando tudo, exceto o que colida com valores universais de transparência, diferentes formas de amar (a Amizade, o Amor fraterno e o romântico, o simples Amor... ), bem como o sentido de justiça, independentemente de ser ou não connosco.
Porque o silêncio perante a maldade, é apenas outra forma de a não impedir. Somos coniventes por omissão, pelo que ninguém se engane que por nada fazer, de nada pode ser acusado ter sido neutro!
É ser abraçado, ter o coração a palpitar, ver o mar e a lua, o nascer do sol, secar uma lágrima, entenderem a nossa, rirmos desbragadamente inocentes sem clichés sociais do politicamente correto, fazer caminho com pessoas inteiras, ter saúde, partilhar, ouvir a noite, oferecer e receber um sorriso, pugnar pelos que necessitam de atenção e não pelos que a ostentam, sermos compreendidos, aceites, valorizados, livres!
Então e agora que faço com todo este dinheiro, se não tiver consciência das necessidades básicas de conforto, proteção, cuidado!? se não tiver amigos ou uma verdadeira família, enfim, se fizer do dinheiro a minha iludida felicidade?
Dá-se um tal vazio, que por sermos seres relacionais, não ter ninguém que nos escute, aceite e ame, e a quem possamos amar, aceitar e compreender, o dinheiro, por si só, seria o veneno letal, do exemplo que dou atrás.
Como um náufrago sobrevivente numa ilha deserta e perdida, com tudo o que de luxuoso o cruzeiro tem. O sentido de auto preservação seria corrompido.
Precisamente porque ninguém consegue viver uma vida inteira sozinho, sem comunicar, sem dar expressão àquilo que é a sua natureza: a humana!
É sempre nas coisas simples que se encontra a Felicidade, e, sobretudo, na relação com o Outro.
E não se é feliz todos os dias, e por vezes parecemos amorfos, depressivos, tristes, nostálgicos, insatisfeitos, mas é próprio do ser humano não ser perfeito, pelo que, quem disser que o é, apenas está a mentir a si próprio!
É, aliás, também, por isso, que devemos estar continuamente atentos àquilo que sentimos, porque essas tensões de equilíbrio, essas emoções, surgem, precisamente, para nos alertar para a toxicidade de outras.
Tudo o resto é importante, mas acessório a que possamos dizer com propriedade que somos Felizes, porque sem o Amor nas suas diversas vertentes, o mero hedonismo é um diamante reluzente perdido no deserto, mas ofuscado pelo sol que verdadeiramente brilha, sem uso nem esplendor.
Como alguém que comprasse os maiores luxos, casas palacianas, carros topo de gama,... e, depois, não tivesse com quem partilhar!
A Partilha, é, ela mesma, um sintoma de Felicidade, porque se faz sempre gratuitamente, e nunca as coisas estarão à altura de nos completar, se houver esse vazio.
Só o Amor, o que recebemos e damos gratuitamente, nos liberta e dá razão à existência!