14.10.09

DAS ELEIÇÕES E O 13º DIA

Não sou dado à política, mas sou interveniente. A política é, por natureza, um jogo sujo, mas pessoas existirão que tenham uma vida limpa dentro dela. De resto, como na vida. No rescaldo das autárquicas, congratulo-me, por pouco cristão que possa parecer, com a não eleição de Fátima Felgueiras, da mesma maneira que lamento a renovação de mandato de Isaltino Morais. Percebo que as pessoas votam nos seus interesses privativos regionais, mas tal equivale a fomentar a corrupção dos políticos que, por desenvolverem a nossa terra ou terem políticas que de qualquer forma nos toque, perdoamos a corrupção em nome do interesse pessoal. Isso é inqualificável, e pessoas como Fátima Felgueiras, condenada em vários casos e com processo suspenso noutros, bem como Isaltino Morais, pronunciado por vários crimes,são apenas dois rostos de uma mesma moeda. Num lado penalizaram a autarca. Não porque tenha processos pendentes, mas porque sobrecarregava muito os impostos em tudo o que era concelhio, dizem os populares. Visto assim, a sua não reeleição não teve proveito do ponto de vista da qualidade democrática, dado que o povo não a sancionou pelos actos de corrupção (uns provados, outros absolvidos por falta de prova, outros ainda em julgamento), mas sim porque já não estava a ir de encontro aos interesses da população, e colocar os interesses pessoais acima do carácter de quem comanda é, no meu entender, revelador do próprio carácter do eleitor. Inversamente aconteceu em Oeiras com Isaltino Morais. Sendo um concelho desenvolvido, de que interessa que uma sentença já proferida venha a transitar em julgado se ele faz o que me interessa na minha localidade? Uma vez mais, revelador do carácter dos próprios eleitores. Quanto a Elisa Ferreira penso que o seu jogo duplo de querer Portugal sem renunciar a Bruxelas, foi (parece-me) bem justiçado pelos eleitores. Não podemos agradar a todos, porque as causas não se têm em ambas as mãos: ou sim, entregamo-nos à causa, ou não vale a pena dizer que lutamos indefectivelmente por ela quando temos outra na manga se não resultar. Isso não é lutar por uma causa: são interesses pessoais.

Entretanto, ontem dia 13 celebrámos a aparição de Nossa Senhora de Fátima, Independentemente de sermos ou não crentes. Dialogar sobre Deus não é fácil. Sobre Nossa Senhora também não. Mas quem não interiorizar de que algo aconteceu de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917 na Cova da Iria como se fosse uma invenção, é um iliterato histórico. Como poderiam três crianças saber da Rússia, da Guerra Mundial, das palavras que Maria lhes dizia, de não se amedrontarem com o azeite a ferver ameaçado com a polícia de então e o governador de Ourém, até darem a vida pela Mensagem? Porque haviam de dormir com cordéis atados ao corpo para fazerem sacrifícios? Os três pastorinhos já todos desaparecidos, com a morte natural da Irmã Lúcia há três anos, numa das aparições foi-lhes dito que não usassem o cinto, as cordas, mas antes rezassem, e rezassem muito.

E o episódio da cadeia, onde foram colocados temporariamente, e todos os reclusos da época, apesar de num momento primeiro se terem mostrado indiferentes e gozões, acabaram por se ajoelhar quando os viram a rezar ajoelhados com uma imagem pendurada num prego da cela.

E se ainda assim tiverem dúvidas, como desacreditar os jornalistas do jornal "O Século" (equivalente hoje ao Diário de Noticias e ao Jornal de Noticias, que presenciaram a chamada dança do Sol, sendo que nesse 13 de Outubro chovia torrencialmente, e de um minuto para o outro, após a aparição, a terra ficou como nos desertos, seca e enrugada, com frestas de secura de um sol imenso. Ninguém viu Nossa Senhora, nem Francisco a chegou a ver, mas via-a Lúcia, que com tanta descrença lhe pediu que fizesse um milagre para que acreditassem neles. E como poderiam eles saber que naquele dia àquela hora Nossa Senhora apareceria, e todos seriam testemunhas, centenas de pessoas idas de todos os cantos de Portugal, assistir àquele momento?

Dialogar sobre Deus não é fácil. Sobre Nossa Senhora (embora não seja dogma de fé na Igreja Católica tal como não é o Santo Sudário, mas que são venerados) também não. Extrema-se as relações. De um lado os crentes, convencidos da Fé a querer converter o mundo. Do outro lado, os descrentes, sempre cheios de razões para atacar quem não vê com os seus "óculos".

Entretanto, Deus ainda é. Nossa Senhora também. Acima dos fanatismos de uns e do ódio de outros. Porque só o amor é que vence. O filme que vos deixo abaixo é uma produção inglesa, independente, mas com muito rigor histórico e uma sensibilidade humana e espiritual extraordinária. Mais do que um documento histórico ou uma ficção comercial, O 13º Dia é uma convicção da actualidade da mensagem de Fátima. Por isso, partilho um pequeno, mas significativo, diálogo do filme:

«- Irmã Lúcia: Em Outubro vieram as chuvas...a minha mãe disse que era a maneira que o Céu tinha de pôr um ponto final nos disparates infantis, mas para mim, eram as lágrimas dos anjos que choravam por todos aqueles que nunca acreditariam. E eu rezei para que o milagre que Nossa Senhora nos tinha prometido fosse suficientemente grande para o mundo inteiro ver.
- Prisioneiro: Oh....um repórter?
- Reis: Então, o que pensa realmente? É uma invenção? Ou inspiração divina?
- Santos: Acho que é a vontade de Deus.
- Reis: A vontade de Deus. Então não é apenas a imaginação das crianças?
- Santos: Não senhor, elas não inventam.
- Reis: Não?
- Santos: A minha Lúcia não mente; os primos dela não mentem. Você e todos os estranhos que pensam que sabem tudo. As minhas colheitas estão arruinadas. A Cova está arruinada. Todos os dias mais e mais pessoas invadem a minha terra como gafanhotos. A minha família está a sofrer...
- Reis: Lamenta este "favoritismo" de Deus?
- Santos: É inútil lamentar o que não está nas nossas mãos.
- Prisioneiro: Eu vi-os. Os pastorinhos na prisão vieram e rezaram connosco. O Governo não quer que nós, pobres, saibamos da grandeza de Nossa Senhora. Ouvimos dizer que eles vão atirar bombas sobre a multidão desta vez!
- Reis: Quem diz?
- Prisioneiro: Muita gente.
- Reis: Mas vai na mesma?
- Prisioneiro: Ó senhor, vai acontecer um milagre. Quem não arriscaria a vida por um milagre?
- Reis: Parece muito seguro...
- Prisioneiro: Senhor, eu falei com as crianças, os pastorinhos. Acredito neles.
- Reis: Eles converteram-no?
- Prisioneiro: Abriram-me os olhos.»