28.11.09

DO JANTAR DE BLOGUISTAS

Tudo começou no Casino Estoril pago com os donativos dos blogs e terminou em Lisboa ;)

Tradução rafeirosa do livro do Jorge "Are You Ladrating to Me"
(Sim, o Rafeiro Perfumado esteve presente).

Com souvenirs destes, qualquer jantar é apetecível ;) Kidding.

Cada um deixou num livrinho que o Gonçalo levou para este e próximos encontros, as suas impressões do jantar (leia-se, também das pessoas).

"Lobinho só sossegou com a Sebenta do Nando. Gonçalo prometeu levá-lo a um infantário".
Foi algo que recebi com imenso carinho, e ainda bem que me calhou a mim. Com dedicatória, pois claro :)

O livrinho que o Gonçalo guarda e onde também vocês hão-de escrever :) Basta participar no próximo encontro.

Estava tão bem o grupo até eu chegar...
***

Não queria escrever sobre o encontro de bloguistas (blogueiros) que decorreu no passado sábado dia 21 e foi amplamente divulgado, mas tenho recebido mails de quem não foi para que conte. E também vou fazê-lo porque infelizmente prometi no anterior post, mas mais por homenagem a quem foi. É mais uma maneira de dizer obrigado.

Já aqui referi o meu agradecimento e sentida admiração pelo promotor do Encontro Nacional de Bloguistas, o grande Gonçalo Cardoso do blog O Sabor da Palavra, que se empenhou afincada e entusiasticamente para que cada pessoa no seu blogue, mesmo sem nos conhecermos e talvez exactamente por isso, convidasse os seus amigos/seguidores a participarem de um jantar informal, amigo, onde os blogues ficariam como que secundarizados para dar lugar às pessoas, saindo das palavras. Uns aderiram, outros não. Uns (não) puderam, outros guardam-se para o próximo. Estive até ao último minuto sem conseguir garantir uma resposta ao Gonçalo que, todavia, atencioso e óptimo organizador como se revelou nos pormenores, tinha garantido mais dois ou três lugares para pessoas de útima hora, just in case.

Considerando que tanto preconizo uma menos fria web e uma personalizaçao pelos textos, fotos, sem falar do título do meu próprio blog ("Sair das Palavras") que de alguma forma deu o mote ao jantar, tinha de ir. Confesso que não sou grande adepto de encontros, jantaradas, etc. Se eu disser que tenho vergonha ou que sou tímido não vão acreditar, mas é o que acontece. Mas como incorporo na mesma razão a contemplação, a beleza do nostálgico, o indizível do sentimento e a alegria que brota naturalmemnte como quem se entrega, fiz por estar de corpo inteiro como se já conhecesse a todos. Uma defesa. Não uma segurança. Mas ainda asssim, eu.

É importante sairmos de nós e não nos ficarmos pela virtualidade e sermos ainda mais reais, revelando não apenas o mundo interior mas também o corpo que transportamos na vida. Nós também somos rosto, e se por vezes partilhamos tanto indo ao fundo da alma, é estranho ser o anonimato o outro lado dessa revelação. Da mesma maneira que deve haver uma gestão emocional, deve também existir uma gestão da nossa relação com o corpo. É que cada um de nós não tem corpo. É corpo. O corpo é outra linguagem; está sempre a falar. Também não é por acaso que somatizamos. Somos um todo. Não há corpo e alma. Há corpo animado. E, tal como já referi em post anterior, o Gonçalo pretendeu neutralizar o máximo possível da virtualidade, convocando-nos ao encontro. E ainda bem que fui. Porque antes de mais, obriguei-me a sair de mim. Eu, que sou intimista e não gosto muito de grandes encontros. E porque todos os presentes mostraram ser pessoas de nível, nas suas diversas formas de apresentação espontânea. O Gonçalo teve depois a delicadeza de simplesmente dizer o que achou dos presentes, no seu próprio blog, e penso que ninguém se atreve a discordar dele. Eu não teria feito melhor e comungo muito das suas impressões. Como, pelo que leio, o resto do grupo.

Então lá fui. Eu, um tímido por natureza (ou deverei dizer frágil?), não conhecendo ninguém, tornou-se um bocadinho pior aparecer ali, mas outros o tinham feito, e é nisso que reside o mérito. Ia apoiado num artefacto que o Gonçalo tinha pedido que cada um levasse, representando o seu blog (um poema, uma música, um texto, aquilo que cada um entendesse descrever-se melhor). O meu artefacto era um texto de duas toneladas (não, não tenho poder de síntese, como se vê) e uma caixinha de um azul madrugada que, uma vez aberta, não continha nada, a não ser um papelinho com uma citação de Saint Exupery: "O essencial é invisivel aos olhos". E não vou dizer o que outros levaram porque seria deselegância, tal como seria deselegância colocar fotos dos participantes, embora as tenhamos trocado entre nós por e-mail. Mas sou adepto de que se coloquem fotos do jantar, dos encontros, o que seja, mas não abusaria da privacidade de cada um, e só por isso não coloco.

Quando digo que ia apoiado no artefacto, quero significar que ia sem conhecer ninguém, como uma criança no primeiro dia de escola (eu avisei que era assim, apesar de não parecer pessoalmente) completamente só, mas sabendo não ser o único, e como tributo mínimo ao organizador que tanto carinho e dedicaçao colocou no encontro, acreditem que, nem que fosse por essa dedicação, interesse e genuinidade, teria de ir. O Gonçalo assumiu o encontro como uma causa. E está a pensar promover mais, da próxima vez no Norte, não já em Lisboa, e dentro de pouco tempo, por isso estejam atentos ao próximo convite que vai sempre para quem quiser.

Querem então os pormenores, pedem no meu mail. Eu vou deixar duas situações. Uma delas há-de ter sido ;) É que isto de se contar uma coisa destas é difícil e eu já sou prolixo a escrever para o fazer ainda mais. E, repito, se o faço é por homenagem aos presentes.

Situação Um:

Acabámos todos por jantar o mesmo: risotto de espargos verdes com ovo mexido e azeite de trufa (finíssimo). Vá lá que a coisa acabou por sair em conta, tendo havido alguns momentos intimistas. Um deles foi a leitura de poemas da Natália, o texto do Gonçalo e finalmente o meu, com música ambiente para o efeito, as luzes ligeiramente mais reduzidas, ficando @ orador@ com a luz a incidir sobre si, enquanto nós escutávamos deliciados em momentos intercalados com outras trocas de artefactos. Foram momentos únicos diluídos com a boa disposição geral, como se já quase nos conhecessemos. Os blogs chegaram a ficar momentaneamente secundarizados. E, de repente, quase éramos velhos amigos.


Situação Dois:

Depois de várias sugestões na preparação do encontro, o restaurante foi aceite e cada um pediu o que quis. Houve momentos intimistas pela simples leitura de textos/poemas, que representavam a pessoa e/ou blogue, mas uma vez que éramos apenas uma mesa entre outras, embora a mais cheia do simpático e intimista restaurante, provavelmente só ouviu condignamente a leitura a pessoa que estava imediatamemte a seguir ou eventualmente até duas depois do orador, tendo os restantes aproveitado para irem pedindo as sobremesas ou o café, uma vez que o garçon também se ia impacientando por já sermos os últimos. O que nao deixou de ser caricato e hilariante. Imaginem a situação: leitura intimista de um poema e três pessoas depois "pode ser um doce de framboesa" ou "quem é que tem a minha máquina?"! Divino. Trocámos os artefactos olhando como quem não quer a coisa para as horas porque todos tinhamos de ir embora cedo naquela noite (uma terrivel coincidência). Mas nada disso impediu o contacto que cada um teve, ainda que de raspão, com o mundo do outro.


Seja como tenha sido, quero dizer-vos que conheci pessoas maravilhosas (e agora não estou a brincar) e que não duvido que alguma delas tivesse deixado de ser ela mesma para ser mais cortês, ou simpática ou socialmente correcta. A começar por mim. Não falarei sobre nenhum dos participantes em particular, porque como já antes referi, comungo da análise tão objectiva, simpática e simultaneamente delicada que o Gonçalo fez de cada um de nós. Pessoalmente nao me canso de o elogiar, sendo que o meu maior elogio foi ter participado num encontro que pretendeu tão amigo e o mais divulgado possível. Bem hajas pela atenção, dedicação, empenho e carinho, quer na preparaçao do encontro quer na execução do mesmo. É bom saber que ainda há pessoas assim.

Apenas um registo: o Jorge, o célebre autor do blog Rafeiro Perfumado, confidenciou-me (sim, ele ficou a meu lado) que depois do jantar mudou um pouco a visão sobre algumas coisas e pessoas, pelo que não sabe se o seu próximo livro será outra compilação dos seus humorísticos textos, ou já a inovaçao do blog "Cão de Raça Pulguento" (por contraposição a Rafeiro Perfumado, obviamente).

Last but not the least. Houve alguém que entrou quase por último. Atirou-se a quase todos em beijos e abraços tentando adivinhar os nomes. Confesso que fiquei um pouco surpreso e comentei: "Quem é aquele que conhece toda a gente"? Lá soubemos quem era. Um rapaz que apesar de ter um blog com um pendor reflexivo e onde não deixa de se expor, ainda que de uma forma talvez um pouco nostalgica, chegou ali como se fossem todos conhecidos e só me apeteceu usar o título do livro do Jorge ("Are you ladrating to me"?) embora por educação não o fizesse. Deve ter sido o que aconteceu com os outros. Mas a determinada altura do jantar disse a todos que era muito tímido e todos devem ter pensado que estava no gozo. Acabou por me dizer que era mesmo tímido, e que se extroverteu precisamente por isso. Não sei se acreditaram mas eu acreditei piamente nele. Pessoalmente extroverte-se. Na "intimidade" do blogue, dá o resto. Mas nem todos conseguem ver a fragilidade mascarada de segurança que nos faz voltar para dentro das palavras. É apenas abertura e partilha. Mas quem não conhece julga-o folgazão. Mas eu sei quão frágil é. É apenas simpático, digo eu.

Obrigado, amig@s. Foi bom conhecer-vos. Já vo-lo disse nos vossos blogues, pessoalmente ou por mail. Mas não é de mais enfatizá-lo. E queria dizer que não me esqueci de tantos que não foram, e fiz um brinde interior à sua presença, apesar de nao ser muito dado a estas coisas mas já falei sobre isso. Espero, porém, que estejam presentes no próximo encontro - estejam atentos ao blog do Gonçalo embora eu depois também divulgue-, e terão a surpresa que tão gratamente tive: um encontro de amizade onde a blogosfera não passou de um mero assessório, e fomos nós os verdadeiros protagonistas, inviabilizando por este encontro a virtualidade do ser.


Daniel (Lobinho)