24.11.09

SIMPLESMENTE SER


Dizia eu há dias a um espontâneo grupo de amigos, que mal fora se eu dissesse o que digo no blog, convocando as pessoas a serem simplesmente elas, sem defesas e com naturalidade, e eu me apresentasse reservado ou intimidatório. Todavia, obviamente que não andamos com a fragilidade do ser nas mãos, como que fazendo o outro pagar essa factura a que é alheio, e por isso o riso escancarado e sincero, sentido, mas igualmente defesa natural para um interior por vezes triste. Todos temos as nossas pequenas glórias e frustrações, mas geralmente guardamos as vulnerabilidades para momentos de maior intimidade: connosco mesmos, com amigos... O que não invalida a pacífica coexistência de um ser natural e espontâneo - como que já conhecendo os outros -, quanto reservado e tímido... naquilo que não diz. Talvez que os que mais riem e os que mais soltos são (sendo eu um desses), sejam afinal os mais frágeis, e na razão inversa os aparentemente tímidos ou simplesmente mais sóbrios embora receptivos, tenham uma maior resistência às adversidades. Mas como não há geometria no ser humano, somos sempre muito mais do que aquilo que possamos explicar.

Eu gosto muito de rir, de brincar com as pessoas no sentido da partilha e da alegria (não do gozo), mas comporto vários mundos onde no mesmo dia temos chuva e sol, embora não subitamente... mas quase. E a música subverte-me essa hiper-sensibilidade, como uma hemodiálise dos sentimentos. Coloco uns phones e transporto-me para longe, onde músicas e canções me fazem escorregar em espirais de vida com sóis e luas de sentir, percorrendo galeões agitados de mares e esplendorosos caminhos de gelo, ou por entre giestas e altas copas, vibrantes, pujantes, sentindo cada molécula e tendão, cada nervo e veia, em partículas cheias de ritmo, um extravasamento onde a própria vida estremece de emoção. Mas também nesses phones me transporto aos sons da minha alma, onde fadas e duendes e seres míticos subitamente saltam de uma qualquer floresta e nos inundam com magia e com a sensação de não pertencermos aqui, deixando-me triste para quem me visse de fora, mas na realidade apenas sentindo a música calma, ou triste, ou mesmo macambúzia, ou simplesmente inadjectivável, tão suave e doce, que nesses interpolados momentos de êxtase e agonia, se descompressam aguilhões reais e imaginários que todos os dias nos assolam, por não pertencermos aqui, por a alma clamar por um lugar que não é este, ou simplesmente pela alegria entornada na partilha imediata de um ser feliz.

Todos os dias sobrevivo na alegre ingenuidade da infância, e talvez por isso uma fragilidade tão grande quanto o meu apreço pelo humor. Mas nunca me julguem forte. Não sou. Preciso, não do elogio gratuito, mas das palavras simples de amor e carinho que me revigoram a alma. Talvez porque me mostre aparentemente intrépido, mas não sou. Ou como diz um amigo meu, é importante o elogio fácil, que não é o mesmo que gratuito, já que é aquele que simplesmente se dá quando corresponde ao que sentimos e não o cordial, ou porque as pessoas precisam de se sentir reforçadas, elevadas, apoiadas.

Decorreu, entretanto, o jantar de bloguistas (ou blogueiros). Noutro post falarei sobre ele. Para já, o agradecimento público ao promotor do evento, Gonçalo Cardoso do blog Sabor da Palavra, que com empenho e grande entusiasmo, pretendeu neutralizar o máximo possível da virtualidade, convocando-nos ao encontro. E o meu público agradecimento de igual forma a todos os presentes que, tal como refere o Gonçalo, mostraram ser pessoas de nível, nas suas diversas formas de apresentação espontânea, muito embora houvesse já um conhecimento semi-prévio pelos blogs, alguns nem isso. Acreditem, nunca é a mesma coisa.

A tod@s os que me seguem, e independentemente do encontro que houve, aproveito para agradecer os comentários que sempre me deixam. Sabem, eu não costumo comentá-los, (o que não invalida não o fazer); inter-ajo mais nos outros blogues, comentando eu, mas fico sempre muito agradecido, porque aquilo que para uns pode ser pouco ou natural, para outros significa muito. E isso acontece com os comentários que recebo. comentários que por mais que eu quisesse agradecer não conseguiria, mas são os que me resgatam tantas vezes sem o saberem. Não que não tenha amigos ou vida própria, mas porque por vezes a virtualidade, tal como a música, serve de alçapão para hemodializarmos o sentir. Seja ele qual for. De que adianta falarmos muito se dissermos pouco de nós, do essencial e da vida?

É por isto que continuo na virtualidade blogosférica sem deixar de ser alguém real. Também se medem temperaturas e também nos escondemos num aconchego que, por vezes, não sabíamos existir.

Lobinho