22.11.09

QUANDO A DOR SE TORNA AMOR


O passo é lento. A música serena-me o espírito mas o corpo cede à pressão das intempéries. Como se saísse uma lágrima de simultânea dor e reconforto, qual mãe que acaba de dar à luz o seu menino. Os sorrisos são espontâneos, talvez contagiantes, sinceros, mas no outro lado da rua vivem pobres sem cor nem luz nem risos nem cultura nem entendimento para os senhores do mundo. Porém, com o dom da sensibilidade. Como quem se habituou à dor. Cruzo-me com eles. Emprestem-me o anonimato. Eles dizem-me consabidamente que o tempo é meu, e geri-lo faz a diferença.Triste solitário que ri e se soergue na imensidão da partilha.Aquela que se faz luz no fogacho do vazio. Ah como doem as gaivotas a sobrevoar o mar. Como dói o indizivel do abraço envergonhado. A dor é única. Vivê-la passa pelo exemplo da relatividade das coisas e da vida. Quantas almas não vogam solitárias? E amanhã serei outro na mesma lágrima vertida em riso. Porque o riso é o sol que te posso dar na própria chuva que recebo.