7.3.11

NEWSFLASH

O dia de Carnaval como interregno lúdico e livre que é, não passa da representação de uma sociedade no que seria se se declinassem as normas. A máscara tem o sentido catártico de uma disciplina socialmente imposta. As personagens que representamos confundem-se no real e no imaginário, porque tanto somos aquilo que pensamos ser, como as personagens que apenas pensamos representar. Mas hoje não é preciso haver dia de Carnaval. Carnaval é todos os dias. Há uma consciência emergente do provocatório como mais-valia pessoal. Neste aspecto valorizo os simples, a simpatia do riso, a desresponsabilização salutar por tantos males do mundo! E esses sim, sabem brincar. Sem precisar de corsos ou trajes forçados. O homem médio é sem dúvida o mais feliz. E passadas as vinte e quatro horas permitidas ao excesso, entra-se num período de reflexão. É a Quaresma com início no dia seguinte, a Quarta-Feira de Cinzas! “Lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar”!  E quantos nos julgamos o criador e não a criatura.

Celebrou-se, também, o Dia do Livro. É ele quem nos ensina e depura a existência. Através dele crescemos e encontramos outros prismas da mesma realidade, desinstalamo-nos e crescemos. Uma casa sem livros, merece sempre uma reflexão, porque se não falo de intelectualidades, temo as massas acéfalas cientes do seu único viver. 

No festival da canção, ganharam "Os Homens da Luta". Como exercício diletante nada tenho a dizer, mas como representante de Portugal num Festival da Canção, é absurdo. Não têm musicalidade (nem tinham de ter, quanto ao propósito com que existem) e não há nada que os legitime, que não a votação de quem gastou os 0,60€ mais IVA. A democracia tem destas coisas. 

A política portuguesa atingiu o cume do despudor. Sou apartidário, mas voto sempre, e não me revolto com a primeira contrariedade. Há muito tempo, porém, que o actual Governo deixou de ter a função que devia para se governar a si mesmo à custa do povo. É apenas uma versão ocidentalizada do que assistimos na Líbia, Egipto e afins. O despudor com que se corrompe e nega o acto como quem diz o nome próprio, com a tentativa de sonegamento da Justiça por trás, é revoltante e leva-me a pensar que, se eu fosse socialista, não teria votado de novo. As pessoas, porém, lá sabem porque gostam de se flagelar... e aos outros!

A manifestação facebookiana do próximo dia 12 auto-intitulada "Geração à Rasca" peca por cada um ir muito individualmente querer roer o seu osso, mas esqueceram-se do essencial. Não se devia lutar apenas por um lugar individual ao sol, e todas a benesses que receberam pela educação e pelo próprio sistema, confunde a percepção de que somos uma sociedade que dá tudo e onde os jovens confundem luta por capricho. Há razões nessa manifestação, claro, mas são todas tão individuais e sectaristas, que nada ficará depois dela, e só quando se aprender que os "escravos" de que falam os Deolinda não têm comparação com revoltas dos jovens líbios e egípcios, é que este tipo de manifestações, vincadas num movimento e não numa manifestação volátil e oca, se poderão realmente fazer ouvir. Até lá, os jovens têm de perceber que os pais e avós antes deles é que eram "escravos", e que lutar por um lugar ao sol não é um  mero contributo para a já tão competitiva e hermética sociedade, sem valores, referências ou horizonte. E assim, mais uma vez, o governo rir-se-á, como fez com manifestações bem mais intensas onde muitos se não manifestaram porque receosos dos patrões em aderir. Isto é que podem ser formas esclavagistas e não as benessas de quem já as tem. Como a dita geração.

E a Mulher "celebrada" também dia 8. Canto aqui a Mulher, aquela que encoraja, vive, suaviza, trabalha, colmata, sorri, soergue-se, põe jóias e as mãos no estrume, reivindica sem abafar e é sinónimo de esperança e, com ela, de futuro. Essa Mulher, não a que se ocupa nas vanidades de querer ser mulher.

Televisões e jornais nos ipad's e outros dispositivos. Com aquele tamanho de ardósia, o que me interessa a leitura ou visualização digitais? Isto da informática não é tudo. O risco de um apagão e da durabilidade no futuro, faz com que o suporte em papel nunca desapareça. A Biblioteca Nacional de França ao mesmo tempo que digitaliza todo o acervo, também o copia em papel. Sou adepto das informáticas, mas não as adulo. Enquanto houver um selo e uma carta para alguém mais alguém, não haverá um e-mail. Enquanto puder ler, folhear, sentir a beleza do papel, da grafia, não haverá ebook. E enquanto puder sair das palavras, não haverá um mundo hermético e digital, alimentado por solidões que se acomodam e não querendo sair de si, se tornam ainda mais sós, quando bastava usar a internet para sair, e não a pessoa para a internet.

Aproveitando para deixar um abraço e beijo imensos a tod@s quantos vão passando por aqui. Porque a amizade, ainda que virtual mas em verdade e amor, é sempre o que conta, e não a montra tantas vezes velada de superioridade ou encapotado abraço.