13.1.20

O MILAGRE DE SER

Os milagres acontecem, por mais que racionalizemos tudo. E, o mais curioso, é que acontecem nas coisas mais simples e imperceptiveis. Sem sensibilidade para elas, a inteligência é um instrumento cego e insuflado de vaidade, porque nos torna o criador e não a criatura!
Gosto de saber que nem tudo é efémero, volátil, ao sabor das modas! Gosto de saber que as coisas não são só boas enquanto duram, que cada um pode fazer do momento a sua própria eternidade! Não me assusta a constância das coisas se nela houver a possibilidade, não apenas do erro, mas do desvio criador, do riso que se solta para aligeirar e suportar o drama, da palavra que desinstala do bolor interior. De saber que podemos surpreender e ser arrebatados à novidade que não conhecíamos. Gosto dessa constância, que, não deixando de ser dinâmica, nos marca como seres distintos e únicos, porém tão iguais nas necessidades psicológicas de amor e compreensão, de segurança e conforto! Precisamos de aprender com os erros e não de os legitimar, de abraçar e não de ferir, e de instigar sempre no outro a aceitação do novo e do recomeço pela desconstrução do próprio eu!
A fatalidade pode existir nas coisas que acontecem, e o desamor nas atitudes que possamos tomar, mas nenhuma felicidade se constrói sobre as cinzas que deixámos nos outros; as nossas acções podem ser tão graves quanto as nossas omissões, mas não saem das nossas mãos, cuja génese é dar e receber, apaziguar e acalmar, abençoar ou a esconder, nem o coração o sente assim; esses sim, são momentos de prova, mas momentos, e não a constância da perenidade que quisermos ter! Precisamos de educar nos outros a veleidade escondida em nós, e de ser firmes na exigência do amor: esse que não é uma tolerância ao erro ou um arrastamento da passividade.
Só com um amor firme mas suave, nos amaremos a nós mesmos, e estaremos em condições de perceber que também a vida espera muitas vezes mais de nós. O resto são falácias do ego em atitudes constantes de um alter ego que muitas vezes nem sabemos ter...