2.2.20

EQUILIBRIO


Como se define uma pessoa se o exterior é tantas vezes a antítese do sentir? Há solidões disfarçadas, mansões desabitadas, cruzes que se carregam sem ninguém imaginar. Pode até parecer patológico, mas são apenas defesas propostas pelo inconsciente para mascarar a própria fragilidade. Precisamos mais do Outro do que supomos, mas se não houver silêncio interior suficiente nesse Outro e se da inteligência lhe falta a sensibilidade, os nossos ecos estarão perdidos até que tomemos ao colo as nossas dores, não para as expiar, mas para nos suprir essa carência latente mas sempre velada.


É que também o Outro não pode tomar as nossas dores, e o nosso crescimento seria débil e dependente, num ciclo de vaidade e soberba intelectual camuflado em miséria e tristeza. Os sentimentos mais nobres geralmente são os que se intuem, porque tal como um pobre envergonhado, dificilmente exporá em praça pública a sua condição, porque a sua dignidade não está comprometida. E, é também por isso, que a inteligência sem sensibilidade é um mero instrumento ao uso da razão. Ou seja, todos estamos comprometidos. Ou ainda, como diz Pessoa "ser austero é não saber esconder que se tem pena de não ser amado".

Precisamos de estar connosco para crescermos, mas não nos podemos separar do Outro para continuar e evoluir! Porque o verdadeiro alimento não está mais em nós do que no outro, nem mais no outro do que em nós. E é nesse equilibrio que nos precisamos de dar e de ser...