Desafiado pelo Ominoma a escrever sobre o tema "O meu mundo", este texto foi publicado em primeira mão e em exclusividade na sua pagina. Hoje passa a estar disponível na página do autor ;)
Cavalos chorosos, risos tristes, vento soprando de norte (mas a bússola está partida). Amigos presentes, ausências cortantes, saudades efémeras, Quem sou eu? Quem és tu? O que é a verdade? Qual é o teu mundo? E qual será o meu? Se te vês num caminho, onde te leva ele? Não estará ali uma encruzilhada? Quantas não há em cada esquina?
Sinais de trânsito pessoais com semáforos intermitentes. Mostramos risos escancarados e absolutas verdades, mas temos a vida para alugar. Quanto custa a renda? Quem lá habita? Pensamos que não temos anexos nem quartos disponíveis que não os que conhecemos. E um dia um inquilino sai de dentro de nós e interpela-nos. Pergunta-nos muito a sério onde temos estado, por que sítios da casa vagueamos, ou porque nos ausentamos dela. Quem cultivamos? Ervas daninhas que encontramos nas sorridentes estradas e campos da vida, onde entornamos copos de alegria com amigos, ou aquele jardim que de quando em vez se magoa tanto que nos fechamos num recanto, num pedaço de uma enorme sala. Quem era a sala? O nosso mundo? Ou seria uma janela pequenina aberta sobre um monte? Ou sobre um mar que transporta para nenhures?
Qual é o teu mundo? Qual é o meu? O que é o mundo? Esta ficção cognitiva? Este interpolado êxtase de claridade? Que trilhos percorremos, e que estradas seguimos. Que estrelas nos guiam e em que céus acreditamos? Que certezas temos nós na relatividade das coisas?
O meu mundo está cruzado. Em stand by. À espera de mim mesmo. Estou hipotecado? Não sei. Sou livre? Presumo. Mas o que é a verdade? E, de repente, dois, três, vários mundos cruzam o meu. Explosões humanas, partículas do agora. E depois? Haverá futuro? Ou a noite silente e amiga ficará vazia até chegar o dia opulento? Mas o que tem o dia? Fulgor? Brilho? Não é esse o meu mundo. O meu mundo é um grito suspenso, um livro inacabado, um pensamento recorrente, uma ficção que sonha alto e saindo do nada se metamorfoseia, qual errante sonâmbulo de uma vida que não tem. Ou julga ter. Depois danço. Os véus cobrem-me o rosto e sorrio. Meneio as mãos, a cabeça, o corpo ao ritmo de uma dança desigual. É um concurso? Uma competição? És muito melhor do que eu. Mas não és eu. Já olhaste para as horas? Não, tonto. Para as horas da vida. Julgas-te omnipotente com tanto mundo por descobrir? Qual mundo? O meu? Já me conheces? Julgas conhecer? Porque não te aventuras? Há mundos que não se cruzam por pensarem como tu. Quantas galáxias de pessoas não conheces tu só porque não têm o teu cheiro? Quantos momentos perdes só porque conheces os teus? É esse o teu mundo? Uma redoma transparente como um animal no zoológico? Por onde vais? Por onde caminhas? Ou rastejas? Ou nem sequer sonhas que tudo isto te diz o inquilino. E quem é ele? O teu verdadeiro eu? Quem arrendou a casa? Mas tu pensas que é habitação própria. Será? Talvez. Não sei. Como não sei qual é o meu mundo. Só sei que na intersecção de varias estradas muitos outros mundos se atravessam. E qual deles és tu? Qual é o teu mundo? Há mundos parecidos, dizem que também os há paralelos. Mas o teu? Qual é afinal o teu mundo?
O meu não é feito de poesia. Viria o inquilino perguntar-me "porque dormes acordado? Não vês que te posso roubar com essas distracções"? E então perplexo, sento-me no sofá da vida e penso: Tens razão. Isto não é poesia. nada disto é poesia. São sinais (des)codificados em palavras. E saberei eu mesmo interpretá-los? Terei de recorrer a algum egiptólogo ou intérprete historiador?
E a música vem, invade-me, leva-me para longe, solta-me, faz-me quebrar o feitiço do pensamento porque não é poesia. Não gosto de sorrir como quem vê um filme e de seguida acorda de novo para a luz, com a rotina dos transeuntes na rua a passarem indiferentes àquela hora e meia ou duas de filme. De um outro mundo. Do meu mundo. Naquele momento. Como uma canção que me faz vibrar até dançar com todo o rimo que posso e transpirar a emoção deixando-a no ar até que alguém tenha a sensibilidade de a entender. E terá? Os sinais podem ser mal interpretados. Hieróglifos? Chamamos de novo o egiptólogo? E se o mundo não for o do Egipto? E se for apenas da Antiga História? Aquela da infância que nem tu conheces? Lembras-te? Lembras-te de sair de um reconfortante recanto que te alimentava em crisálida? E depois cresceste e já eras homem, mulher, ser humano, que isto do sexo é muito relativo? Qual é o teu sexo? Masculino,feminino, neutro? É mesmo? Tens a certeza? E o teu mundo? Também se esquadrinha assim?
Autonomias. Independências. Períodos transitórios. E de repente já está. Mostras o teu mundo. Composto. Adulto ou a caminho. Arejado. Limpo. Receptivo. Poderoso. Achas? Já te esqueceste dos semáforos e das encruzilhadas a cada esquina? Está mais atento. Mais livre. Compromete-te mas não te dês a certeza que nem a certeza tem. Que sabes tu do mundo? E do teu? Que sei eu do meu mundo? Mais do que lhe posso dar. Menos do que me atura a mim. O meu mundo? Queres saber qual é o meu mundo? O meu mundo é o meu nome. A minha história. Tudo o que esta ainda por escrever. Por viver. Por sentir. E se balas de canhão me atravessarem, estarás cá tu então para cuidares de mim? Mas e se não me conheces? E se não fizeste por isso? Porque havias de cuidar de mim? E como? Queres mesmo saber qual é o meu mundo? Queres pegar-me ao colo e levar-me morto em teus braços para perceberes que afinal a nossa responsabilidade é maior do que a que pensamos? Não há homens nem mulheres. Há pessoas. E tu? És pessoa? Sabes cuidar delas? Sabes cuidar de ti? Quantas feridas virás a ter? Muitas? Poucas? E dor? Quantas partos de dor virás tu a ter? Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe, dizem. Que bom. Sopram-me isso ao ouvido e fazem-me regressar aqui. À casa. Ao corpo. Ao olhar. À voz. Daniel, qual é o teu mundo?
Sinais de trânsito pessoais com semáforos intermitentes. Mostramos risos escancarados e absolutas verdades, mas temos a vida para alugar. Quanto custa a renda? Quem lá habita? Pensamos que não temos anexos nem quartos disponíveis que não os que conhecemos. E um dia um inquilino sai de dentro de nós e interpela-nos. Pergunta-nos muito a sério onde temos estado, por que sítios da casa vagueamos, ou porque nos ausentamos dela. Quem cultivamos? Ervas daninhas que encontramos nas sorridentes estradas e campos da vida, onde entornamos copos de alegria com amigos, ou aquele jardim que de quando em vez se magoa tanto que nos fechamos num recanto, num pedaço de uma enorme sala. Quem era a sala? O nosso mundo? Ou seria uma janela pequenina aberta sobre um monte? Ou sobre um mar que transporta para nenhures?
Qual é o teu mundo? Qual é o meu? O que é o mundo? Esta ficção cognitiva? Este interpolado êxtase de claridade? Que trilhos percorremos, e que estradas seguimos. Que estrelas nos guiam e em que céus acreditamos? Que certezas temos nós na relatividade das coisas?
O meu mundo está cruzado. Em stand by. À espera de mim mesmo. Estou hipotecado? Não sei. Sou livre? Presumo. Mas o que é a verdade? E, de repente, dois, três, vários mundos cruzam o meu. Explosões humanas, partículas do agora. E depois? Haverá futuro? Ou a noite silente e amiga ficará vazia até chegar o dia opulento? Mas o que tem o dia? Fulgor? Brilho? Não é esse o meu mundo. O meu mundo é um grito suspenso, um livro inacabado, um pensamento recorrente, uma ficção que sonha alto e saindo do nada se metamorfoseia, qual errante sonâmbulo de uma vida que não tem. Ou julga ter. Depois danço. Os véus cobrem-me o rosto e sorrio. Meneio as mãos, a cabeça, o corpo ao ritmo de uma dança desigual. É um concurso? Uma competição? És muito melhor do que eu. Mas não és eu. Já olhaste para as horas? Não, tonto. Para as horas da vida. Julgas-te omnipotente com tanto mundo por descobrir? Qual mundo? O meu? Já me conheces? Julgas conhecer? Porque não te aventuras? Há mundos que não se cruzam por pensarem como tu. Quantas galáxias de pessoas não conheces tu só porque não têm o teu cheiro? Quantos momentos perdes só porque conheces os teus? É esse o teu mundo? Uma redoma transparente como um animal no zoológico? Por onde vais? Por onde caminhas? Ou rastejas? Ou nem sequer sonhas que tudo isto te diz o inquilino. E quem é ele? O teu verdadeiro eu? Quem arrendou a casa? Mas tu pensas que é habitação própria. Será? Talvez. Não sei. Como não sei qual é o meu mundo. Só sei que na intersecção de varias estradas muitos outros mundos se atravessam. E qual deles és tu? Qual é o teu mundo? Há mundos parecidos, dizem que também os há paralelos. Mas o teu? Qual é afinal o teu mundo?
O meu não é feito de poesia. Viria o inquilino perguntar-me "porque dormes acordado? Não vês que te posso roubar com essas distracções"? E então perplexo, sento-me no sofá da vida e penso: Tens razão. Isto não é poesia. nada disto é poesia. São sinais (des)codificados em palavras. E saberei eu mesmo interpretá-los? Terei de recorrer a algum egiptólogo ou intérprete historiador?
E a música vem, invade-me, leva-me para longe, solta-me, faz-me quebrar o feitiço do pensamento porque não é poesia. Não gosto de sorrir como quem vê um filme e de seguida acorda de novo para a luz, com a rotina dos transeuntes na rua a passarem indiferentes àquela hora e meia ou duas de filme. De um outro mundo. Do meu mundo. Naquele momento. Como uma canção que me faz vibrar até dançar com todo o rimo que posso e transpirar a emoção deixando-a no ar até que alguém tenha a sensibilidade de a entender. E terá? Os sinais podem ser mal interpretados. Hieróglifos? Chamamos de novo o egiptólogo? E se o mundo não for o do Egipto? E se for apenas da Antiga História? Aquela da infância que nem tu conheces? Lembras-te? Lembras-te de sair de um reconfortante recanto que te alimentava em crisálida? E depois cresceste e já eras homem, mulher, ser humano, que isto do sexo é muito relativo? Qual é o teu sexo? Masculino,feminino, neutro? É mesmo? Tens a certeza? E o teu mundo? Também se esquadrinha assim?
Autonomias. Independências. Períodos transitórios. E de repente já está. Mostras o teu mundo. Composto. Adulto ou a caminho. Arejado. Limpo. Receptivo. Poderoso. Achas? Já te esqueceste dos semáforos e das encruzilhadas a cada esquina? Está mais atento. Mais livre. Compromete-te mas não te dês a certeza que nem a certeza tem. Que sabes tu do mundo? E do teu? Que sei eu do meu mundo? Mais do que lhe posso dar. Menos do que me atura a mim. O meu mundo? Queres saber qual é o meu mundo? O meu mundo é o meu nome. A minha história. Tudo o que esta ainda por escrever. Por viver. Por sentir. E se balas de canhão me atravessarem, estarás cá tu então para cuidares de mim? Mas e se não me conheces? E se não fizeste por isso? Porque havias de cuidar de mim? E como? Queres mesmo saber qual é o meu mundo? Queres pegar-me ao colo e levar-me morto em teus braços para perceberes que afinal a nossa responsabilidade é maior do que a que pensamos? Não há homens nem mulheres. Há pessoas. E tu? És pessoa? Sabes cuidar delas? Sabes cuidar de ti? Quantas feridas virás a ter? Muitas? Poucas? E dor? Quantas partos de dor virás tu a ter? Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe, dizem. Que bom. Sopram-me isso ao ouvido e fazem-me regressar aqui. À casa. Ao corpo. Ao olhar. À voz. Daniel, qual é o teu mundo?